Passo
Erivelto Reis
Eu não voltava nunca pra aquele lugar onde eu tinha sido feliz se ele tivesse sido ocupado, depredado, dominado, zoneado e divido entre a mímica e a pantomima narcísica.
Podia ser o que fosse,
Eu não voltava...
Mesmo que eu tivesse que ir lá todo dia.
Eu não voltava.
Fingia que tava lá, mas não tava.
O corpo presente,
Enquanto a mente voava.
O olho no olho,
Mas por dentro, o soslaio,
O drible de alma.
Eu não voltava, eu ia, eu sabia
Eu estava...
Mas não voltava.
Baixava a cabeça, obedecia.
(Quando chegasse ao limite)...
Enquanto o grotesco muro se erguia..
É um jeito estranho de preservar o amor:
Esse amar o que poderia ser
Mas não é!
Esse amar o que quase foi…
Esse amar o que impedem de ser!
Como se por acaso, no terreno da plantação, houvesse um torrão de lama e barro
Que impedisse a semente
De germinar e de crescer.
Eu não voltava.
Não é por orgulho ou pessimismo,
Mas é que não sei fingir
Que não vejo a trajetória alheia
Ir culminar no abismo.
Enquanto eu posso,
Eu ajo, explico… argumento e aviso.
E olha que não ganho
Nenhum centavo a mais por isso.
Eu não voltava!
Não gosto do violento gesto
De espalhar migalha.
Não sei lidar com quem
Usa o poder pra não
Pensar em nada.
Eu não voltava,
Mandava um clone meu
Pra atuar como dublê ou
Uma fita, um áudio,
Um DVD...
Uma espécie de procuração,
Um(a) (L)Ead.
Perguntando:
Quem, quando, como,
Onde e por quê?!
Um silêncio consolidado
Sem provocação...
Como uma procuração pra
Encontrar
O talento incontestável
que insiste em se esconder.
Eu não voltava.
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