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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

Poema: "Halloween", de Erivelto Reis

Halloween

Erivelto Reis
Tanta gente por aí que age e fala como se gostasse da escola pública
Mas não gosta nada...
Nem liga...
Gosta de mentira, gosta é de mentiras.
Como se fingisse gostar de um parente,
De um vampiro, de uma múmia,
Como se gostasse de um purgante,
De uma dor de dente.
De uma topada,
Do lobisomem, de um duende
De uma diarreia,
De um gnomo, de uma bruxa má,
De uma enchente,
De perder uma aposta,
De pisar na bosta.
Tanta... Tanta gente.
Dizendo por aí
Que se preocupa com a escola pública.
Preocupa nada.
Na hora que a escola precisa
(E a escola sempre precisa!),
Diz que tá ocupada,
Que está cansada,
Em oração...
Que é só tirar da tomada,
Que é problema de conexão.
Que é falta de porrada,
Que a escola deve ser privatizada.
Tanta gente por aí que
De escola pública não entende nada.
Estão nas escolas, na administração, nos gabinetes...
Com suas mordomias e marionetes.
Estão nos ministérios,(mistério!)
Nas licenciaturas, na graduação,
Na TV, nos sites, nos meios todos de comunicação...
Coordenando fundações e projetos pretensamente benéficos à educação.
Mas que gente mais prestativa
Quando o assunto é emitir opiniões,
Inventar falsas soluções,
Apontar culpados, monstros e vilões.
Criticar o esforço alheio,
Dizer que não é pai nem mãe
De um filho malcriado, de um filho feio,
Puxar o saco do governo...
Mentir que a escola pública está nadando no dinheiro!...
Tem muita gente por aí
Mentindo que gosta da escola pública.
Mas gosta mesmo é da crise e da fofoca, da violência e do assédio
Enquanto a escola vai sendo
Sufocada, desacreditada, desmontada
Até virar um prédio vazio
De vida, de sonhos, de alma.
Até que os alunos
E os profissionais da educação
Se vejam transformados
Em fantoches, em fantasmas,
Em fachadas, em zumbis,
Mortos-vivos com medo,
Sem voz e sem vez.
Sem ter um lugar para ir,
Que ninguém quer saber.
Capachos maltrapilhos
Humilhados...
Assombrados.
Halloween é para os fracos.
As coisas todas do nosso dia a dia
São pra essa gente
Como ficção, terror de um filme B...
Apenas resquícios de um pesadelo.
Tem gente que diz que gosta da escola pública,
Gosta nada!
Gente vazia do coração de gelo.

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