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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Poema: "Re-velar", de Erivelto Reis

 Re-velar

Erivelto Reis
Nada do que eu deixar
De fazer amanhã
Vai fazer diferença
Pra quem quer que seja.
Talvez uma meia dúzia
De interjeições,
Umas duas dúzias de onomatopeias,
Algumas poucas exclamações.
Um desmoronamento de expectativas,
A roupa secando sem sereno
No abandono banal
Do fim de tarde de um dia
De calor infernal...
Ou, quem sabe, encharcada,
Diante da inesperada
Pancada de chuva,
Prenúncio de um vendaval.
A notícia pegando alguns de surpresa:
Uma tarja preta, um laço,
Um card na rede social.
Uma reticente informação
À guisa de confirmação.
Nada do que eu deixar de fazer amanhã
Vai fazer falta pra algum ateu
Ou pra cristão algum.
Um zunzunzun, duas semanas
De fofocas e especulações:
Mel e veneno escorrendo
Do canto de alguns lábios.
Tarântulas desobstruindo
O que estava atravessado
Na garganta: ódios e talvez paixões.
Um concílio de sábios
Afirmará que sabia
Que eu não estava bem.
Esquecimento, presunção e desdém.
Um locutor anuncia a última promoção
Na gôndola do supermercado:
"Só hoje, vai levar batata asterix".
No cartório, o escrivão pergunta
Se o dinheiro pra certidão está trocado...
Mas avisa que aceita Pix.
Uma rápida parada no posto
Pra verificar se o pneu tá calibrado.
Pensamentos e emoções tomados
Repentinamente como um grupo
Indefeso de reféns.
Nada do que eu deixar de fazer amanhã
Não vai fazer falta pra ninguém.

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