Quem sou eu

Minha foto
Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Poema: "Doloso", de Erivelto Reis

Doloso

Erivelto Reis


Há um dia, disfarçado de comum,

Em que você sai de casa pela última vez...

(Ainda que você saia conscientemente)

Saiba que houve um dia antes desse

Que marcará a última vez que saiu

Sem saber que seria assim

(Que não seria mais):

Um voo para fora do ninho,

Um abrir as asas pro espaço,

Um arrebatamento emocional

Um livramento incondicional...

Ou então:

Um equívoco definitivo,

O último gabarito possível,

A perda do mapa do labirinto...

Um tombo, uma queda irrecuperável.

Um sem número de receitas,

Um vasculhar de escombros,

Uma ausência de ombro...

Um fracasso pré-conquistas,

Um mistério sem pistas!

A porta se fecha num gesto cotidiano

E talvez não se abra jamais.


Lá dentro um passado trancado

Uma estante de quinquilharias

E de sentimentos raros.

E você revira todos os cantos da memória 

Na fissura da paranóia

Para identificar 

A exata palavra inadequada

O exato gesto inadvertido

que desencadeou tudo.

Não era um evento, 

Não era um acontecimento,

Nem discussão, nem discurso.

O olhar procurando frases,

Movimentos e detalhes

Como uma lupa em perpétuo 

Envergonhado, vitorioso ou Assombrado zoom.

Há um dia,

(Há sempre um dia

Talvez diferente do que você supôs!)

Aquele dia!

Invariavelmente disfarçado de comum...

Mas você só vai saber depois.


Nenhum comentário:

Postar um comentário