Doloso
Erivelto Reis
Há um dia, disfarçado de comum,
Em que você sai de casa pela última vez...
(Ainda que você saia conscientemente)
Saiba que houve um dia antes desse
Que marcará a última vez que saiu
Sem saber que seria assim
(Que não seria mais):
Um voo para fora do ninho,
Um abrir as asas pro espaço,
Um arrebatamento emocional
Um livramento incondicional...
Ou então:
Um equívoco definitivo,
O último gabarito possível,
A perda do mapa do labirinto...
Um tombo, uma queda irrecuperável.
Um sem número de receitas,
Um vasculhar de escombros,
Uma ausência de ombro...
Um fracasso pré-conquistas,
Um mistério sem pistas!
A porta se fecha num gesto cotidiano
E talvez não se abra jamais.
Lá dentro um passado trancado
Uma estante de quinquilharias
E de sentimentos raros.
E você revira todos os cantos da memória
Na fissura da paranóia
Para identificar
A exata palavra inadequada
O exato gesto inadvertido
que desencadeou tudo.
Não era um evento,
Não era um acontecimento,
Nem discussão, nem discurso.
O olhar procurando frases,
Movimentos e detalhes
Como uma lupa em perpétuo
Envergonhado, vitorioso ou Assombrado zoom.
Há um dia,
(Há sempre um dia
Talvez diferente do que você supôs!)
Aquele dia!
Invariavelmente disfarçado de comum...
Mas você só vai saber depois.
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