Receita para entrar no Céu
Erivelto Reis
Não grite na porta,
Não questione deus, zeus, ateus
Semideuses ou alguém vestido de deus
Não chame por santos
Eles são quadros abstratos
Nas paredes de pó e nuvem
Não espere por milagres
Não diga que tem sede
Porque senão te dão um copo de vinagre
Fique afastado das grades, dos pátios
Dos átrios, no limiar do anonimato
Não tenha pressa
Porque te farão esperar
Por toda a eternidade.
Quem já lá esteja
Não brindará tua chegada
Não te oferecerá uma cadeira,
Um torresminho, uma cerveja
O céu é para os heróis,
Os faraós e os aerossóis
Que herdarão a Terra
Pois fizeram dela usucapião
E sabem que depois que ela sucumbir
O céu não vai fazer qualquer sentido.
No céu de faz de contas
Anjos e querubins
Se levantam enquanto passam
Os arcanos, os decanos e os chapolins
Enchem de ar e derrota os pulmões
E tocam os clarins
Para anunciar que algum daqueles deuses
Acabou de passar por ali.
Não reclame da falta de espaço,
Transparência e ética no recinto
Por qualquer coisa, um semideus se zanga
E o céu é Terra de quem só crê em si.
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