Rotina (ou code dress)
Erivelto Reis
Tem um cotidiano secreto
Que ninguém tá vendo!
Tem um cotidiano de fora,
Tem um cotidiano de dentro.
Tem uma rotina social
De existir comunitário:
Um plano, um casco,
Um papel identitário.
Por dentro, desespero,
Por fora, funcionário.
Por fora, funcionando...
Por dentro devastado!
Por fora, calçadão da praia,
Por dentro, o fundo do poço.
Por fora, uma vida inventada,
Por dentro, uma vida vazia.
Por fora, escuta afetiva
Por dentro, nem vem que não te ouço.
Há uma portaria de mármore
Fazendo propaganda do prédio
Mas há uma entrada de serviço
Que, ultrapassada,
Gera crise, gera o tédio
Estraga o interesse,
Cessa o apetite...
Por fora, bela fachada,
Por dentro, uma obra que não termina,
Difícil reforma...
Que depois de pronta,
Revela ruínas.
Tem um code dress:
Por fora, glamour, paletó,
Vestido, perfume e strass...
Por dentro, nu...
Amargura, solidão e estresse.
Por fora, nada mal...
Por dentro Bornout,
Por fora, pessoa genial
Por dentro, uma árvore
De produzir o fruto do caos.
Por fora, a favor da paz
Por dentro, querendo paz
Por fora, olhar sereno,
Por dentro, vulcão!
Por fora, feliz e pleno
Por dentro, não:
Lava e lágrima em estado de erupção.
Sempre a mesma rotina:
Por fora, a felicidade que não cessa,
Por dentro, o sofrimento que não termina.
Tem um code dress.

Nenhum comentário:
Postar um comentário