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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

domingo, 8 de abril de 2018

Poema: "Carta a meus filhos sobre a condenação de Lula", Erivelto Reis


CARTA A MEUS FILHOS SOBRE A CONDENAÇÃO DE LULA
Erivelto Reis

Sobre poema de Jorge de Sena

Para Oswaldo.


Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
O Brasil é um país em que tudo é possível:
Juízes sem moral cobrando a verdade
Sem se dar conta da boca de quem ela vem.
Inimigos do povo, amigos da elite que não os elege,
Mas que perseguem, para quem mentem, matam e de quem têm ódio.
Há aqui políticos que só pensam em si mesmos, em seus prazeres.
É improvável que não deem por isso,
Por todos os interesses já demonstrados,
Pelo ato de que condenam um inocente
No mesmo cenário em que absolvem os culpados
Associados que estão aos corruptos e canalhas
Que vos dirigem e que pagam por seus ternos,
Viagens e medalhas.
Meus filhos a horda avança tanto que lançou ao precipício o vosso futuro.
(...)
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
Vale mais do que a justiça quando esta se pratica com ética
E que verdadeiramente há os que se alegram com
A humilhação dos mais pobres e vão dormir em paz
Quando os mais fracos e oprimidos não têm o que comer,
Onde dormir, ou o fazem com medo de não haver amanhã.
A verve, a sanha com que manipulam o sistema para protegê-los,
Esbarrou desde sempre na perspectiva dos fingimentos que sustinham,
Das alianças que travaram e das ações que sempre levaram o povo
À morte que é de todos e virá.
Não desculpo o erro destes que tramaram
Porquanto tenham extrapolado todos os limites da sensatez,
Governam não tendo sido eleitos, roubam, ameaçam e
Tiram dos mais pobres até mesmo a ínfima partícula dos sonhos.

São raivosos, ardilosos e não permitem,
Nem mesmo parecem aceitar,
Que o povo renda homenagens aquele de quem escarnecem.
Vossa alegria de lutar e ter para si o espaço das ideias,
Da democracia e do estado de direito
Vossos recursos lhes são apurados ainda na fonte minguada,
Vossa força de trabalho é desvalorizada e, pergunte-se,
Não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
A redenção pelos crimes em sequência que cometem
Pela reunião entre o Vice, os militares, o supremo,
Num grande acordo nacional,
Para estancar a sangria que jorrou e continua a jorrar
Do ódio aos mais pobres e dos crimes que secreta
E explicitamente cometem contra os mais simples,
As crianças, as mulheres e os operários deste país.
Em memória do sangue que nos corre nas veias,
Haveremos de ensinar nas escolas, através dos livros de História,
Das histórias literárias, e do que mais resistir de pé...
As verdades cruas que existem, por detrás das mentiras caluniosas,
E das injúrias espúrias que inventaram e difundiram
Para condenar um só homem.
Um homem que representa os sonhos e ideais
De milhões de outros homens e mulheres.
Sossegai, ó, tiranos!
Sabei que o banquete das hienas não precisa de talheres.

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