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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

sábado, 28 de abril de 2018

Poema: "Ginocrítica", de Erivelto Reis

Ginocrítica
Erivelto Reis

Essa mulher caminhando
Podia ser uma filha, uma esposa, uma irmã.
Podia ser uma mãe ou uma estrela, uma estranha,
Homens que desejassem sê-la ou tê-la, ou um homem se quisesse ser...
Podia ser uma professora, uma trabalhadora, uma amiga, uma líder...
Podia ser Iansã, cientista, artista, poeta, cantora,
Valorosa tradutora, compadecida dos sonhos e dos afãs.
Iemanjá, nossas senhoras, avós, tias e revolucionárias –
Resignada, há em si mesma, serenas jovens libertárias,
Musas, deusas, mulheres de Atenas,
Experientes, carentes, caretas, cansadas... –,
Queimando seus sutiãs, nas praças e nos romances,
E não os seus sonhos na espera, às portas das Universidades,
Onde as não querem os maus e vis.
Essa mulher caminhando podia ser e é de verdade
Namorada da felicidade, amada de coração.
Deveria ser e estar e ir aonde bem entendesse
Do jeito que lhe aprouvesse, devia ser sempre feliz.
Sem ter de dever a outrem, explicação.
Essa mulher caminhando, traz em si sua e nossa história:
Os sonhos primaveris de todas as moças gentis...
Marcas da solidão por velar pela volta de todos
Os seus guerreiros, cavalheiros e cavaleiros,
Por cuidar de seus martírios, enterrar seus corpos,
Ou a dor da memória de seus filhos desaparecidos:
No Araguaia, nas baias humanas do centro e das periferias das capitais...
No interior de Goiás ou nas terras de nunca mais.
A santa, a cunhã, a índia... Simplesmente ser mulher...
Essa mulher europeia, indígena,
Ameríndia, africana como a Terra toda.
Essa mulher caminhando
Podia ser o berço da sociedade,
A crente mais fervorosa e mais deliciosamente pagã.
Cheirosa como romã, ou tangerina pocã.
Luminosa como a alma intensa de uma radiosa manhã.
Essa mulher que para o senhor só existe pra servir,
Pra explorar, pra sorver e sem roupa.
É negra, é cabocla, é brasileira, universal, múltipla e plena.
Merece o seu silêncio, o seu respeito, uma flor ou um poema...
A pulseira de contas do infinito, do tempo, do orvalho e do sereno.
Merece um laço de fita, (é uma moça bonita!),
Não o ódio e o desejo que o senhor vomita.
Não é mistura de sua azeda marmita,
Não é dama cansada do seu castelo
De cartas marcadas.
Essa mulher não se maltrata, não se ameaça,
Nem com o olhar, a força física do corpo,
Ou a violência torpe da palavra.

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