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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Poema "Deprê", de Erivelto Reis

Deprê
Erivelto Reis
Depressão é um vazamento eterno,
por vezes intenso, 
da paz que deveria nos bastar.
Nada sacia, nada conforta,
nada alimenta:
nem a alma, nem os sonhos.
Os sorrisos são braçadas descoordenadas
Num mar de afogamento
E desespero.
Depressão não é covardia,
Preguiça ou ódio da vida.
É um grito silencioso por ajuda,
Carinho e conforto.
Um grito nem sempre percebido.
Outro dia foi uma dose a mais,
depois um porre.
Outra hora é a insônia, uma ansiedade,
Um pânico...
O dia raiando na noite de nossa angústia
E a sensação de não servir pra nada,
Não haver produzido nada,
Uma mágoa inflamada, latejante
E prolongada.
Um desejo de se desculpar
Aliado a uma culpa que não se explica
E que não quer passar.
Não é vício, não é perversão,
Não é soberba, nem timidez!
É depressão.
É um inquilino de sua alma
Sublocando compulsivamente seus
Pensamentos à melancolia e ao isolamento.
São traumas se recriando
No oculto vazio da espera.
Uma sombra sob a retina,
As mãos arranhando o tempo
O tic-tac obsceno do coração
Como uma bomba-relógio...
É um sofrer que se diz exagerado,
É um viver que se pressente como farsa.
É assistir o rascunho de si mesmo...
Realizar a revisão
Do próprio necrológio.

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