Jair
Erivelto Reis
Erivelto Reis
E agora, Jair?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, Jair?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que é perverso,
que odeia e confessa!?
e agora, Jair?
Não valoriza a mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode se esconder,
continua a tramar,
a ruína dos pobres,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
veio a distopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, Jair?
E agora, Jair?
Suas estúpidas palavras,
sua quadrilha de filhos,
seu torpe guru,
sua idioteca,
sua sanha por ouro,
suas fake news,
sua incoerência,
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, Jair?
E agora, Jair?
Suas estúpidas palavras,
sua quadrilha de filhos,
seu torpe guru,
sua idioteca,
sua sanha por ouro,
suas fake news,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?
Com a chave na mão
quer entregar o país,
tem gente que não deixa;
tem de se exilar,
nem se incomodou;
quer ir para Minas,
Brumadinho não há mais.
Jair, e agora?
Se você pensasse,
se você entendesse,
se você respeitasse
Com a chave na mão
quer entregar o país,
tem gente que não deixa;
tem de se exilar,
nem se incomodou;
quer ir para Minas,
Brumadinho não há mais.
Jair, e agora?
Se você pensasse,
se você entendesse,
se você respeitasse
quem fosse diferente,
se admitisse,
sua canastrice,
se se comovesse...
Mas você não se comove,
você é duro, Jair!
Sozinho no escuro
sua mente é um vácuo,
sem categoria,
não assume a culpa
de não saber governar,
cercado de assessores
que tramam outro golpe,
você marcha, Jair!
Jair, para onde?
se admitisse,
sua canastrice,
se se comovesse...
Mas você não se comove,
você é duro, Jair!
Sozinho no escuro
sua mente é um vácuo,
sem categoria,
não assume a culpa
de não saber governar,
cercado de assessores
que tramam outro golpe,
você marcha, Jair!
Jair, para onde?
José
Carlos Drummond de Andrade (1942)
Carlos Drummond de Andrade (1942)
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio — e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
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