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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Crônica: "Para os que defendem a Democracia", de Erivelto Reis



PARA OS QUE DEFENDEM A DEMOCRACIA
Erivelto Reis

Os que defendem a Democracia não estão ou vão a determinados lugares simplesmente porque querem. Vão ou estão porque é preciso ir. Vão ou estão porque outros tão destemidos quantos eles não puderam ir.
Os que defendem a Democracia vão ou estão na linha de frente do combate ao preconceito, à humilhação, à destruição do estado democrático, à supressão dos direitos civis e constitucionais porque, antes deles, em um tempo muito, muito recente na história do Brasil, outros que estiveram ou que foram aos cenários equivalentes aos da mesma batalha foram presos, sequestrados, capturados, interrogados, torturados, mortos. E os que não morreram sofreram violências da natureza das torturas descritas nos círculos infernais de Dante.
Os que defendem a Democracia vão ou estão em combate contra os inescrupulosos, os déspotas, os capachos de ditadores, contra os entreguistas, os detratores, os caluniadores, os torturadores, os corruptos porque é preciso que alguém comece a combatê-los.
Os que defendem a Democracia não toleram ameaças como “brincadeiras”, o compadrio como forma de se fazer política, sabem que, historicamente, quando forças econômicas, religiosas e políticas se unem, pode haver componentes perversos que brutalizem o povo; ou o banalize ou o escravize ou o animalize ou o bestialize. É raríssima a possibilidade de favorecer, esclarecer, governar e proteger o povo em circunstâncias análogas. Leia na História, na Arte e na Literatura: você vai ver.
Os que defendem a Democracia o fazem porque acreditam na soberania, na autonomia entre os poderes, na Educação, no trabalho e na valorização de trabalhadores e trabalhadoras, na proteção das riquezas naturais de um país, no respeito à dignidade humana, na justiça, na Arte e na Cultura, na Liberdade e na convivência pacífica entre as pessoas.
Nenhum regime democrático se legitima pela opressão, pela subserviência aos países ricos e pela Violência, física, institucional, pela supressão de direitos dos trabalhadores e pelo discurso de ódio.  Os que defendem a Democracia sabem disso. Os que buscam privilégios e migalhas de privilégios, não. Ainda não.
O autoritarismo no agir e no falar, a indiferença ao diálogo, o menosprezo ao interlocutor, o uso de ameaças explícitas ou veladas, o assédio aos servidores, o enfraquecimento administrativo e a transferência sistemática de patrimônio, bens e serviços essenciais do estado para os setores privados, sem discussão e debate com a sociedade e sem justa e real compensação é roubo de patrimônio e, mais grave ainda, de nosso futuro. Condena nossa população à indigência, porque certamente nos veja assim.
O repúdio à arte, aos artistas, à cultura, à livre expressão, a perseguição aos professores são indícios claros de um estado antidemocrático. Penso que os professores representem para os ditadores o que os comerciantes judeus representavam para os nazistas na Alemanha no período que antecedeu a abertura dos campos de concentração.
O uso de violência contra os mais pobres, o horrendo balé da cópula entre corruptos e corruptores, cujo ápice do prazer é a dissolução dos direitos mais elementares à vida, à saúde, à segurança, ao ir e vir, ao trabalho, à seguridade social, à escola... são indício da brutal sanha com que os ditadores se lançam ao que julgam ser o corpo agonizante do estado democrático ­─ ensaio de cadáver putrefato ─ de uma jovem Democracia. Demonstram seu fetiche pela dor do outro, sua arrogância e sua libido pelo ódio e contra as instituições democraticamente legitimadas.
A coexistência de jovens de “boa índole”, com boas famílias desprezando a escola e escolhendo o partido da esperteza, do preconceito, assenhorando-se pessoal e virtualmente do comportamento do “troll”, do “hater”, das pequenas corrupções, do desprezo à ética, ao trabalho, do Bullying com o desejo por justiça com as próprias mãos, sobretudo quando feita contra os pobres e desvalidos, as mulheres e crianças, os idosos, os de matriz religiosa diferente, os indigentes, os marginalizados por quaisquer razões, na mesma grande massa de pessoas às quais os governos antidemocráticos pretendem aplicar a pena capital em doses homeopáticas, constantes e cada vez mais intensas, é outro indício de que os que lutam pela Democracia não devem se calar e não devem parar de estar e ir aonde precisam ir.  E porque sabem que a Democracia deveria estar em todos os lugares.
Os que defendem a Democracia sabem que é preciso defendê-la todos os dias com gestos, atitudes e palavras. Os que defendem a Democracia sabem que, nos tempos que se seguem, esta talvez seja a última coisa que façam.




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