PARA OS QUE DEFENDEM A DEMOCRACIA
Erivelto Reis
Os que defendem a Democracia não
estão ou vão a determinados lugares simplesmente porque querem. Vão ou estão
porque é preciso ir. Vão ou estão porque outros tão destemidos quantos eles não
puderam ir.
Os que defendem a Democracia vão
ou estão na linha de frente do combate ao preconceito, à humilhação, à
destruição do estado democrático, à supressão dos direitos civis e
constitucionais porque, antes deles, em um tempo muito, muito recente na
história do Brasil, outros que estiveram ou que foram aos cenários equivalentes
aos da mesma batalha foram presos, sequestrados, capturados, interrogados,
torturados, mortos. E os que não morreram sofreram violências da natureza das
torturas descritas nos círculos infernais de Dante.
Os que defendem a Democracia vão
ou estão em combate contra os inescrupulosos, os déspotas, os capachos de
ditadores, contra os entreguistas, os detratores, os caluniadores, os
torturadores, os corruptos porque é preciso que alguém comece a combatê-los.
Os que defendem a Democracia não
toleram ameaças como “brincadeiras”, o compadrio como forma de se fazer
política, sabem que, historicamente, quando forças econômicas, religiosas e
políticas se unem, pode haver componentes perversos que brutalizem o povo; ou o
banalize ou o escravize ou o animalize ou o bestialize. É raríssima a
possibilidade de favorecer, esclarecer, governar e proteger o povo em circunstâncias
análogas. Leia na História, na Arte e na Literatura: você vai ver.
Os que defendem a Democracia o
fazem porque acreditam na soberania, na autonomia entre os poderes, na
Educação, no trabalho e na valorização de trabalhadores e trabalhadoras, na
proteção das riquezas naturais de um país, no respeito à dignidade humana, na
justiça, na Arte e na Cultura, na Liberdade e na convivência pacífica entre as
pessoas.
Nenhum regime democrático se
legitima pela opressão, pela subserviência aos países ricos e pela Violência,
física, institucional, pela supressão de direitos dos trabalhadores e pelo
discurso de ódio. Os que defendem a Democracia
sabem disso. Os que buscam privilégios e migalhas de privilégios, não. Ainda
não.
O autoritarismo no agir e no
falar, a indiferença ao diálogo, o menosprezo ao interlocutor, o uso de ameaças
explícitas ou veladas, o assédio aos servidores, o enfraquecimento
administrativo e a transferência sistemática de patrimônio, bens e serviços
essenciais do estado para os setores privados, sem discussão e debate com a
sociedade e sem justa e real compensação é roubo de patrimônio e, mais grave
ainda, de nosso futuro. Condena nossa população à indigência, porque certamente
nos veja assim.
O repúdio à arte, aos artistas, à
cultura, à livre expressão, a perseguição aos professores são indícios claros
de um estado antidemocrático. Penso que os professores representem para os
ditadores o que os comerciantes judeus representavam para os nazistas na
Alemanha no período que antecedeu a abertura dos campos de concentração.
O uso de violência contra os mais
pobres, o horrendo balé da cópula entre corruptos e corruptores, cujo ápice do
prazer é a dissolução dos direitos mais elementares à vida, à saúde, à
segurança, ao ir e vir, ao trabalho, à seguridade social, à escola... são
indício da brutal sanha com que os ditadores se lançam ao que julgam ser o
corpo agonizante do estado democrático ─ ensaio de cadáver putrefato ─ de uma
jovem Democracia. Demonstram seu fetiche pela dor do outro, sua arrogância e
sua libido pelo ódio e contra as instituições democraticamente legitimadas.
A coexistência de jovens de “boa
índole”, com boas famílias desprezando a escola e escolhendo o partido da
esperteza, do preconceito, assenhorando-se pessoal e virtualmente do comportamento
do “troll”, do “hater”, das pequenas corrupções, do desprezo à ética, ao trabalho, do
Bullying com o desejo por justiça com
as próprias mãos, sobretudo quando feita contra os pobres e desvalidos, as
mulheres e crianças, os idosos, os de matriz religiosa diferente, os
indigentes, os marginalizados por quaisquer razões, na mesma grande massa de
pessoas às quais os governos antidemocráticos pretendem aplicar a pena capital
em doses homeopáticas, constantes e cada vez mais intensas, é outro indício de
que os que lutam pela Democracia não devem se calar e não devem parar de estar
e ir aonde precisam ir. E porque sabem
que a Democracia deveria estar em todos os lugares.
Os que defendem a Democracia sabem
que é preciso defendê-la todos os dias com gestos, atitudes e palavras. Os que
defendem a Democracia sabem que, nos tempos que se seguem, esta talvez seja a
última coisa que façam.
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