Irremediável
Erivelto Reis
Se eu não chegar a receber a cura
Se eu não for capaz
De atravessar todo o túnel,
Se eu não conseguir,
Se eu me perder daqueles que mais amei...
Tem um poema guardado em algum lugar:
Um manuscrito que eu não terminei...
Tem um dia inesquecível
(Dos muitos que tivemos)
Que me vem à memória
Cada vez que o amor é mencionado.
Tem aquela foto que eu tirei
Com os nossos filhos
Na cidade das Flores
E que tanto me faz pensar
Na vida como um Rio Verde...
Tem aquele livro que eu ganhei do Primitivo,
Alguns bons amigos tão queridos...
Um pôr do sol que assistimos em Monserrate
E o meu silêncio estúpido
Diante do túmulo de meu pai e minha mãe.
Se eu não puder conhecer a terra mãe de nossa Literatura,
Com seus deuses e mártires,
Há tanta história preservada e que talvez não possa ser
contada.
Há um maço de cartas, confissões apaixonadas...
Há talvez alguma pessoa
Que se lembre que eu a incentivei.
E uma dedicatória especial...
Há a casa de minha infância, um nome
O meu nome, nascido da admiração
E da crença humilde de meu pai
Num mundo de música e de arte,
E que se vai perdendo, irremediável...
Há uma biblioteca que ganhei de presente
O talento para a vida
Que os meus descendentes têm...
E as vezes todas que eu e o meu amor
Adormecemos de mãos dadas.
Se eu não chegar a ver a luz no fim do túnel,
Que meu sonho seja luz, dia claro,
Esperança e incentivo aos que ficarem
Para que a felicidade seja o ponto de partida,
O meio do caminho e a linha de chegada.
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