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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

terça-feira, 16 de março de 2021

Crônica: "Sobre o judiciário brasileiro", Erivelto Reis

Sobre o judiciário brasileiro

Erivelto Reis

    O judiciário brasileiro é, em sua grande maioria branco, fundamentalmente educado segundo uma visão eurocêntrica do mundo, formalmente atrelado, seduzido ou postulante aos padrões culturais e de comportamento de uma elite privilegiada, calcada em possuir, consumir e em estar ou encontrar meios de colocar-se acima dos desígnios e do alcance da leis. Ainda que para tal intento, subrepticiamente, tenha de modificá-las ou interpretá-las sob patrocínio dos mais inominados conluios com os que legislam e os de sua casta que detenham o controle dos meios de produção.

            A aberração de seu juridiquês, suas togas e impáfia, não são símbolos de objetividade, austeridade e firmeza de convicção. Antes, ensinados desde os primeiros passos de suas vidas que o poder a eles pertence, através de palavras ou ações, empertigam-se e mesmo se forem descendentes das costumeiras raias dos mais pobres, dos mais vulneráveis, tendem a se colocar na fronteira inexistente (porque trata-se de um abismo) entre a classe média e a classe rica.

            A classe dos que lecionam, no entanto, contundente e predominantemente formada pelos que pertencem, descendem diretamente ou que optaram por trabalhar pelos mais pobres e mais vulneráveis não conhece qualquer privilégio, pouco ou quase nunca desfruta de reconhecimento verdadeiro da sociedade ou das elites que governam, além do que mecanicamente significa entender que o Professor, como engrenagem, cumpre o seu papel. A estes e estas pobres não é dado poder, influência ou condições superiores de trabalho. Conhecem apenas o mínimo que seja para que sigam trabalhando. E alguns, nem o mínimo conhecem.

            Entre a madeira nobre que orna os tribunais, ou a arquitetura moderna com que se construíram e a formalidade dos paletós com que se vestem os avatares desse teatro e o espaço predominante precário da sala de aula há dois universos num balé sombrio, inexorável: o poder e as regalias que possuem os homens poderosos que podem deferir como legítima a morte de qualquer utopia e a escassez de respeito e boa vontade em favor de todo e qualquer professor ou professora, pessoas que podem ensinar verdadeiramente a liberdade e o desejo por ela às pessoas.

            Não são os tribunais que tornam um indivíduo livre. Haja visto que em alguns a justiça e a verdade não entram. O espaço da liberdade é o da sala de aula, é o da educação.

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