Sobre o judiciário brasileiro
Erivelto Reis
O judiciário brasileiro é, em sua grande
maioria branco, fundamentalmente educado segundo uma visão eurocêntrica do
mundo, formalmente atrelado, seduzido ou postulante aos padrões culturais e de
comportamento de uma elite privilegiada, calcada em possuir, consumir e em
estar ou encontrar meios de colocar-se acima dos desígnios e do alcance da
leis. Ainda que para tal intento, subrepticiamente, tenha de modificá-las ou
interpretá-las sob patrocínio dos mais inominados conluios com os que legislam
e os de sua casta que detenham o controle dos meios de produção.
A
aberração de seu juridiquês, suas togas e impáfia, não são símbolos de
objetividade, austeridade e firmeza de convicção. Antes, ensinados desde os
primeiros passos de suas vidas que o poder a eles pertence, através de palavras
ou ações, empertigam-se e mesmo se forem descendentes das costumeiras raias dos
mais pobres, dos mais vulneráveis, tendem a se colocar na fronteira inexistente
(porque trata-se de um abismo) entre a classe média e a classe rica.
A
classe dos que lecionam, no entanto, contundente e predominantemente formada
pelos que pertencem, descendem diretamente ou que optaram por trabalhar pelos
mais pobres e mais vulneráveis não conhece qualquer privilégio, pouco ou quase
nunca desfruta de reconhecimento verdadeiro da sociedade ou das elites que
governam, além do que mecanicamente significa entender que o Professor, como
engrenagem, cumpre o seu papel. A estes e estas pobres não é dado poder,
influência ou condições superiores de trabalho. Conhecem apenas o mínimo que
seja para que sigam trabalhando. E alguns, nem o mínimo conhecem.
Entre
a madeira nobre que orna os tribunais, ou a arquitetura moderna com que se
construíram e a formalidade dos paletós com que se vestem os avatares desse
teatro e o espaço predominante precário da sala de aula há dois universos num
balé sombrio, inexorável: o poder e as regalias que possuem os homens poderosos
que podem deferir como legítima a morte de qualquer utopia e a escassez de
respeito e boa vontade em favor de todo e qualquer professor ou professora,
pessoas que podem ensinar verdadeiramente a liberdade e o desejo por ela às
pessoas.
Não
são os tribunais que tornam um indivíduo livre. Haja visto que em alguns a
justiça e a verdade não entram. O espaço da liberdade é o da sala de aula, é o
da educação.
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