Taxi
Erivelto Reis
Quem pode embalsamar o Brasil?
Tirar uma foto retroagindo
Sua trajetória
A um menos pior momento?
Quem será o empalhador?
A taxidermista?!
Quem seria especialista
Em reconstituir ruína
De sangue, lágrimas e vísceras?
O país precisa ser preservado,
Algo acabado em estado
De fúria e em posição de ataque.
Animal inanimado...
Morto a golpe de adaga,
Na paulada, no fio da navalha,
Pele intacta, casca,
Miolo cheio de morte e palha...
Morto a murro,
Com história e literatura
Seus últimos gritos, seus últimos urros...
Sussurro:
Suas ideias e sua essência dilaceradas
Ciência quase morta, ameaçada
Em armadilha capturada,
Sua cabeça jaz numa parede
Troféu de caçada.
O Brasil é como um animal
Que o animal que não pensa
Pensa que não sente nada.
Estripado, peso de papel em escrivaninha de cedro.
Um país como um touro
Morto diante de uma arena lotada.
Sua execução foi brutal
Não foi indolor,
Ou sem exalar hálito de formol.
A boca espumava,
Seu último sentido foi
O esvanecer da força...
Depois desespero, alívio, preguiça
E um leve odor de carniça.
Quem venha um empalhador,
Que venha um especialista,
Quem pode embalsamar o Brasil,
Quem será a sua taxidermista?...
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