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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Poema: "Taxi", de Erivelto Reis

 

Taxi

Erivelto Reis

 

Quem pode embalsamar o Brasil?

Tirar uma foto retroagindo

Sua trajetória

A um menos pior momento?

Quem será o empalhador?

A taxidermista?!

Quem seria especialista

Em reconstituir ruína

De sangue, lágrimas e vísceras?

O país precisa ser preservado,

Algo acabado em estado

De fúria e em posição de ataque.

Animal inanimado...

Morto a golpe de adaga,

Na paulada, no fio da navalha,

Pele intacta, casca,

Miolo cheio de morte e palha...

Morto a murro,

Com história e literatura

Seus últimos gritos, seus últimos urros...

Sussurro:

Suas ideias e sua essência dilaceradas

Ciência quase morta, ameaçada

Em armadilha capturada,

Sua cabeça jaz numa parede

Troféu de caçada.

O Brasil é como um animal eviscerado,

Que o animal que não pensa

Pensa que não sente nada.

Estripado, peso de papel em escrivaninha de cedro.

Um país como um touro

Morto diante de uma arena lotada.

Sua execução foi brutal

Não foi indolor,

Ou sem exalar hálito de formol.

A boca espumava,

Seu último sentido foi

O esvanecer da força...

Depois desespero, alívio, preguiça

E um leve odor de carniça.

Quem venha um empalhador,

Que venha um especialista,

Quem pode embalsamar o Brasil,

Quem será a sua taxidermista?...

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