HOUSE
Erivelto Reis
Gregory House é um personagem de
uma série de Televisão. Foi vivido brilhantemente pelo ator Hugh Laurie.
Milhões de pessoas no mundo inteiro conhecem esse personagem que é um médico
especialista em diagnósticos, que manca de uma perna e que devido a uma
complicação cirúrgica passa a ser acometido por dores intensas e crônicas desde
então. Viciado em Vicodin, misantropo, pautado na premissa de que “todo mundo
mente”, sua especialidade é ler os outros.
Cícero César foi o House
possível que conheci. Descartados os problemas e idiossincrasias do personagem
da ficção, considerada a forçada aproximação entre o tipo físico do personagem
e do professor, o que torna o match possível realmente, além do grande talento
em sua área (um grande médico na ficção em comparação a um talentoso professor na
vida real) é a capacidade que Cícero tem para ler as pessoas. As lê bem. Com
detalhes. Com rigor. Mas com justiça, poesia e bondade.
Apelidá-lo de House, foi o
reflexo do dom que percebi nele em diagnosticar bem os livros, as pessoas, os
poemas, as canções, os textos verbais e os não-verbais. Cícero lê gestos, lê
atitudes, lê expressões. É tão bom nisso que em alguns casos, chega a prever as
reações e as consequências de determinados comportamentos e atitudes. Há também
alguma impaciência nos dois House.
A recente série de textos que
Cícero escreveu e que trouxe do baú de nossa memória e do ninho de nosso
carinho as figuras de Marinete, Andréa, Umberto, Cléber, amigos e amigas tão
queridos/as, seguindo-se aos textos, uma sequência de comentários repletos de
expressões de saudades, das reminiscências por um tempo em que convivemos e me
fez pensar no personagem e no professor.
Os textos também resgataram as
lembranças de uma convivência coletiva resultante da convergência de tantos
talentos reunidos, do respeito construído pela amizade, camaradagem, admiração
e a noção implícita de que cada qual possuía um milhão de qualidades para estar
onde estava. E isso nos bastava. Uma noção confortável de que o outro era e é especial
independente de qualquer especialidade. Especial em essência. Não há lugar no
lattes pra escrever essas qualidades.
Cícero/House evocou de nossos
corações o teatro infantil - algo ingênuo - de nossa convivência repleta de
humor, cordialidade, profissionalismo, mesmo em presença de graves crises que
suportamos juntos. Num momento em que confiamos mutuamente em cada um dos
companheiros/as, por causa das qualidades deles/as e com eles/as contamos até quando
foi possível. Cícero nos levou de volta
com seus textos sobre nossos amigos tão queridos ao locus amoenus de uma época em que cada qual foi e continuou sendo
importante na lembrança de nossos corações, na fraternidade de nossa
convivência.
Os textos que escreveu e aqueles
que tenho esperança que ele vá escrever deixaram claro para mim que Marinete
sempre será a Marinete de nosso carinho, da memória de uma realidade
profissional e amistosa que partilhamos... e o mesmo, por extensão à Andréa, ao
Umberto, à Lucy, ao Jayme, ao Alzir, ao Cléber, à Marcinha, à Gilda, ao Flávio,
ao Marcos Dias (que chorou diante de mim quando eu fui sendo embora), à Bruna,
à Jane, à Janice, à Aparecida, ao Heleno, à Lya, ao Zé Ricardo, ao Mauro Lopes,
ao Mauro Ferreira, ao Antônio Paulo, ao Sérgio, à Margarida, à Neide, ao seu
Francisco, ao Miguel, à Miriam, ao Gérson, à Adriana, ao Ricardo, ao Rivelino, ao
Anderson, ao Marco Antonio, ... e tanta
gente tão querida...
Cícero diagnostica, medica e
ameniza a saudade com sua poesia, com suas crônicas, com sua escrita. Estimula
a todos/as nós, personagens daquela série e também da vida real, com as suas
palavras e sua sensibilidade, apesar e a favor de nossos espantos. Suas
recordações são em nosso ânimo os anticorpos que produzirão em nós as defesas
para continuarmos lutando e acreditando na confiança, na palavra e na beleza de
gestos e ações.
Talvez seja certo pensar que na
série e na vida, não se pode sair ileso da dor e do sofrimento. House cura a
dor dos outros enquanto a sua própria dor o machuca. Segue trabalhando, mesmo
quando seu trabalho é questionado. É insultado por pessoas que mentem e mentem
e continuam mentindo até que seja possível garantir apenas o seu próprio
benefício. Não porque não saibam que o que dizem seja mentira. Mas porque não
tenham competência para construir o novo e o melhor pelo coletivo. Na série
como na vida.
Agradecer ao House/Cícero é
pouco pela alegria que suas crônicas trouxeram ao meu coração ao homenagear
nossos/as amigos/as.
Anos depois de terminada a
última temporada, acompanho o ator e vejo o personagem em cada novo trabalho e
aplaudo de pé sempre que há uma nova estreia. E sempre há. E as reprises também
ensinam.
Mas eis que, de repente, Cícero
escreve um novo episódio.
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