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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Texto: "O Ultimato", de Erivelto Reis

 

O ULTIMATO

Erivelto Reis

 

            É só procurar no dicionário:

1.

num processo de negociação diplomática, exigência, pedido ou proposta final cuja rejeição acarretará o fim das conversações e o uso de uma ação direta.

2.

na guerra, comunicado enviado por um chefe militar ao inimigo exigindo rendição imediata, sob ameaça de obtê-la por meios mais violentos.

            Ele não é louco, seus seguidores se prepararam, há uma grande rede de controle e manipulação de uma legião de escudos humanos que serão usados inclusive em situações de conflito e litígio bélico e físico; seus apoiadores dispõem de recursos que incidem por todos os setores, especialmente, sobre energia, abastecimento e estrutura econômica do país e suas forças contam com mercenários de toda ordem em diversas frentes e em diversos escalões.

            A ponta do iceberg, num grito ao enfrentamento entre pessoas da mesma nacionalidade, a começar pela manifesta declaração de desobediência constitucional e desafio declarado aos demais poderes - notadamente, ao Supremo Tribunal Federal e ao Tribunal Superior Eleitoral, foi o que vimos ontem. Há uma gigantesca montanha no fundo desse mar de lama.

            Os quase 600.000 mortos não sensibilizam essa gente. Milhões de desempregados, a volta da inflação, a perda de garantias mínimas para os trabalhadores, as sucessivas tentativas de desmonte da Universidade Pública, do SUS, da Educação básica, a miséria e a violência não sensibilizam ou desmobilizam essa gente.

            Seus discursos falsos e odiosos vão se infiltrando e ganhando ares de verdade e de naturalidade entre os entes de nossas famílias, pessoas as quais amamos e respeitamos e fazendo com que, ainda quando não se tornem adeptos/as da totalidade do que essas ideias representam, tendam a racionalizar, naturalizar ou pesar prós e contras.

            NÃO HÁ NADA FAVORÁVEL NUM GOVERNO QUE SE SUSTENTA PELA MENTIRA, PELA HIPOCRISIA, PELA CORRUPÇÃO E POR AGIR DELIBERADAMENTE EM FAVOR DE SEUS COMPARSAS E CONTRA OS INTERESSES DO PRÓPRIO POVO.

            Suas mensagens, destinadas a um grande público, são semântica e semioticamente construídas por especialistas para parecerem neutras, naturais, moralmente e teologicamente embasadas, surgidas de reflexões, do desejo de entendimento, são recorrentes nos anúncios do youtube, circulam nas diversas redes sociais, nas redes de TV abertas, compradas com dinheiro público, via veiculação de anúncios institucionais do próprio, nos grupos de aplicativos de mensagens, em diversos tipos de púlpitos de diferentes denominações.

            Sabe-se da existência e da utilização das chamadas fake news, montagens de aúdio, de fotos e vídeos que circulam a uma velocidade e num volume impressionantes. São como grande arma de propaganda e satanização das entidades, dos servidores, dos opositores, da educação e dos poderes que ainda têm condição de enfrentar e desarticular essa gente perversa.

            Para grupos mais específicos em igual velocidade e volume, circulam mensagens mais ácidas, agressivas, ferozes, mordazes, bélicas, incisivas, conclamando o combate aos opositores, visando à sua derrota e ao seu silenciamento.

Como combater a tia que vem da reunião com uma mensagem falsa compartilhada por outra tia nessa mesma reunião? Uma violência travestida de piada, contada por um colega de trabalho, por um familiar querido, ou as práticas de um professor que não fala diretamente, mas que vai apagando textos, autores, personalidades e temas fundamentais para o esclarecimento de seus alunos e alunas, sorrateiramente, num crime intelectual devastador?

            Como, numa reunião em família, num almoço de domingo, manter-se calmo, quando um parente, um familiar, tenta comparar um político genocida, apoiador de torturadores, cercado de forças militares e paramilitares, eleito a base de disparos de robôs com todo tipo de mentira asquerosa, com o governo de uma presidenta democraticamente eleita e que foi derrubada num golpe que uniu legislativo, o seu próprio vice-presidente, setores econômicos movidos por interesses multinacionais e até mesmo o judiciário?

            NÃO HÁ COMPARAÇÃO!!!

            Recebemos um ULTIMATO ONTEM. Os quase 600.000 mortos são uma clara e inequívoca demonstração de que essa gente não está nem aí para o país e para o povo brasileiro.

            Não fosse a pandemia, a inflação, a retirada dos direitos trabalhistas, a perseguição à ciência e à educação, ao funcionalismo, as sucessivas provas de enriquecimento ilícito dessa família nefasta e seus asseclas, a confirmação incontestável de que um político brasileiro, ex-presidente por dois mandatos, foi perseguido e preso com uma peça judicial montada por um juizeco sem escrúpulos, a mando de poderosas forças econômicas e políticas internacionais, para que esse ex-presidente não disputasse as eleições. Há ainda o aparelhamento das estatais e do governo brasileiro por militares hediondos e incompetentes até a raiz dos cabelos, etc., etc., etc., Todas essas coisas já seriam provas definitivas de que não há interesse, amor, respeito, consideração por nada que tem qualquer relação com a sociedade brasileira e com qualquer princípio de lisura, diplomacia ou soberania de nosso país.

            ESTE HOMEM E OS QUE NELE VOTARAM E OS QUE AINDA O APOIAM NOS CONDENARAM A TODOS.

            Se nada for feito imediatamente, sucumbiremos. Mais hoje, mais amanhã...

            Enganam-se os que esperam expurgá-lo, e à sua dinastia, pelo resultado nas urnas. Se houver resultado nas urnas e mesmo que haja, seu ódio à diversidade, às minorias, aos mais pobres, à democracia e ao Estado brasileiro forjou e alinhou milhares de indivíduos perversos em seus interesses e em suas práticas que usam o poder que tenham: dinheiro, influência pessoal, profissional, familiar, religiosa, para disseminar mentiras ou o atraso travestido de conservadorismo. Por que diabos conservaríamos o que historicamente só nos tem feito mal como sociedade?

            Percebam: a morte dos povos originários, a escravidão, o machismo, os preconceitos os mais diversos, a exploração dos trabalhadores, a destruição de nossa natureza, a expropriação de nosso patrimônio e de nossas riquezas, os golpes contra a democracia, as ditaduras, as torturas, as violências, a discriminação, a desigualdade social, a morte... POR QUE UMA PESSOA OU ALGUMAS MILHARES DE PESSOAS OU ALGUNS PARTIDOS POLÍTICOS SE DEDICARIAM A CONSERVAR ESSAS SITUAÇÕES TÃO CARACTERISTICAMENTE PERVERSAS DA HISTÓRIA DO NOSSO PAÍS?

            APENAS PARA PERMANCEREM NO PODER.

            Poucas famílias dominam o sistema financeiro, os meios de comunicação, algumas famílias se tornaram donas de áreas de terra equivalentes a países da Europa, com o hectare fixado a preço de décimos de centavo e ainda assim com isenção de quaisquer tipo de impostos. Só pra citar alguns exemplos do que essas pessoas realmente querem conservar.

            Agora notem: são conservadoras para enriquecerem e se protegerem - legalmente inclusive - e liberais com tudo o que for coisa pública com a qual possam angariar algum tipo de lucro ou benefício. Para isso não têm escrúpulos. Estas famílias perpetuam-se no poder político formando clãs, dinastias, comprando, financiando, modificando leis para se beneficiarem e colocando no poder ou tirando dele quem bem quiserem e definindo se e como e de que jeito municípios, estados e o país vão ou não se desenvolver.

            Recebemos ontem um ultimato e as histórias mais cruéis de nossa trajetória como povo esbofeteiam nossa cara. E, se nada for feito, este não será o último golpe que receberemos.

 

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