Você entra na sala de aula e passa pelo menos um mês negociando - turma a turma, a cada escola em que trabalhe, sobre como vai ensinar, se vão te deixar ensinar do jeito a que você se propõe, no ritmo, na dimensão e com os enfoques a que pretenda. Não por uma limitação da turma, não por uma dificuldade na matéria, não por uma metodologia. Apenas porque há um poder oculto demonstrado em práticas que se desdobram em conjuntos de violências tácitas simbólicas. Logo você descobre que um grupo de alunos e alunas, explícita ou implicitamente, poderá permitir ou não que você exerça sua função. Quando se é bem sucedido na negociação, não se engane, ou se anime demais, pode ser que você descubra que o trato é volátil e deve ser renovado aula a aula e pode ser revogado à primeira contrariedade, unilateralmente, ao primeiro sinal de dificuldade de compreensão. Pode ser que tão logo apazigue e convença um indivíduo, outros se rebelem pelo simples interesse de que a fragilidade e a instabilidade do docente frente à turma permita que eles, pela superioridade numérica e pelas sucessivas e contínuas práticas de intimidação, por desinteresse, falta de educação básica para tratar com o outro deliberada e ostensivamente, mantenham-se no controle.
Há quem opte por não negociar, por se deixar levar, há quem desista e há quem morra tentando ensinar. Literalmente. Infelizmente.
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