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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

domingo, 30 de julho de 2023

Poema: "Ilusão de Ótica", de Erivelto Reis

Ilusão de ótica

Erivelto Reis

Ninguém vê você como realmente você é
Quando está deprimido.
Veem o que acham perceber
Não veem você desaparecer
Existindo...
Veem uma ideia antiga
Uma reprise de um melhor capítulo
Que acham ter assistido de você.
Talvez um tosco rascunho sendo bruscamente amassado
enquanto é passado a limpo.
Não veem você em crise:
O silêncio estrangulante,
A ansiedade asfixiante,
Os olhos naufragados
No prato de sopa do jantar...
Um sorrir sem vontade
Uma conversa sem horizonte,
E a memória abrindo todas
As gavetas marcadas com "ok"
Pra impedir você de desabar.
Veem um holograma,
Uma noz, só a casca,
Uma escola desfilando
Sem enredo.
Você vivendo todo dia o mesmo dia,
A mesma hora a noite inteira...
Não são capazes de entender
Que você está morrendo de medo...
Pensam: "amanhã isso passa"…
"Tá infeliz por quê?"...
"Vá (se) foder!"…
"Vá rezar!", "Caçar deus..."
"Vá tomar um tarja preta"…
"Se afastar do capeta"...
"Mas que pessoa grossa, exótica!"
Ninguém vê você
Como você realmente está
Quando está deprimido...
Veem uma ilusão de ótica...
Talvez alguém bem próximo
Tenha até intuído, percebido.
Um pouco apenas,
Até ser tarde demais!
Até que chegue o resgate…
Até você não conseguir voltar,
Ou só voltar com sequelas.
Uma fênix sem milagre,
A vista de uma janela
Quase sem paisagem.

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