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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

EU XINGO, MEU PAI ME XINGA, MINHA MÃE ME XINGA

EU XINGO, MEU PAI ME XINGA, MINHA MÃE ME XINGA
Erivelto Reis



Assuntos polêmicos não são o meu forte. Como integrante permanente do lado mais fraco, apresento uma forte tendência a defendê−lo. E, acreditem ou não, o lado mais fraco sempre tem defesa. Embora não pareça. Porém, não poderia nunca ignorar o fato de que apesar de toda a Poesia, o Brasil ainda tem que se esforçar muito para melhorar.
Esse povo tão sofrido que luta por dias melhores e que vive tão oprimido e sem oportunidades, acaba por voltar a sua indignação contra os seus semelhantes. Se não contra o vizinho, o patrão (quando o há), o amigo... Acaba por rebelar−se contra a própria família. Na forma de descaso.
Aconteceu comigo pensar nisso, quando um dia, num ponto de ônibus, esperando condução para participar de um encontro de Poetas, pude ouvir uma “mãe”, — eu imaginei tratar-se de uma mãe, — aos berros, xingando o que me pareceu ser um menino que chorava dolorosa e copiosamente.
Difícil tratar de Poesia com o choro desse menino na cabeça. Difícil acreditar que um país que pretenda crescer e se tornar um país justo possa conviver, dia a dia, com a violência doméstica. Mas como a missão do escritor é levar a Poesia e a literatura onde quer que ele vá, lá fui eu fazer Poesia com o choro do menino martelando o meu juízo.
E quando já estou conseguindo esquecer daquele choro convulsivo, durante um evento no calçadão de Campo Grande, ao meu lado, num daqueles bancos de concreto do calçadão, uma menina procura pela mãe. Seu irmão que vem em seu auxílio, um pouco mais velho que ela, ao invés de ajudá−la, agride a menina com uma sonora bofetada no rosto, empurrões e puxões de cabelo. Ela, frágil, impotente e indefesa; quase sem recursos para mostrar a sua/minha indignação, tenta cuspir-lhe no rosto. E a saliva da revolta da menina também me atinge.
Perdigotos de uma geração marcada pelo descaso respingam minha camisa e minha Poesia. Acertam também o rosto de seu irmão-algoz, tão vítima quanto ela. E assim, nesse ensaio de caos e guerra, onde irmãos se confrontam violentamente, a história se repete e tenta, de maneira sórdida, justificar-se: minha mãe me xinga, meu pai me xinga e eu xingo quem cruzar o meu caminho!!!


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