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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Livrai-nos do “Mala Men”

Livrai-nos do “Mala Men”
Erivelto Reis




Em primeiro lugar: Mala Men são nossos amigos (que não vamos dar trela pra inimigos!) e também somos nós em algum momento. Quando e como? Quando somos chatos e inconvenientes. Esse texto é, antes de tudo, uma homenagem àqueles que nos dão boas histórias pra contar.

Mala Men é aquele colega de trabalho, aquele amigo, vizinho ou parente que enche a paciência de qualquer um.

Mala Men nunca diz bom dia; e se diz, é aos berros, abrindo os braços e chovendo perdigotos. Gosta de contar os segundos, a todo o momento pergunta as horas. Se lhe perguntam como vai, ele responde explicando. Cuidado enquanto me lêem, pois neste exato momento ele pode estar se aproximando!

Mala Men pede tudo emprestado e nunca devolve. É ranzinza, mal humorado, desbocado e “descolado”. É metido a saber tudo sobre qualquer assunto. Sempre diz que leu qualquer livro (sem ter lido!), que viu qualquer filme (sem ter visto! E dos que viu, entrega o final!). Não gosta de viajar: diz que o estrangeiro é sem graça. Mas, se algum conhecido vai ao exterior, encomenda perfume, videogame e computador portátil – que ele acredita chamar-se Top-Top – (sem falar da exigência de chaveiros e postais). Se o turista em questão viaja pelo Brasil, na volta ele só quer saber das mazelas: pergunta se não teve dengue, malária, febre amarela... Interrompe quem está com a palavra, desde a roda de amigos ao seminário sobre o meio ambiente. É auto-suficiente. Às vezes mente tanto que nem sente. Nunca cumpre o que promete.

Mala Men é assim: fala, anda, come... Só não pensa!

Mala Men é “pegajoso”: fala tocando nas pessoas o tempo todo. Gosta de se apoiar nos ombros dos outros. Gargalha em velório. Monopoliza a atenção do anfitrião em aniversários. Chega sempre atrasado. Diz que esqueceu a carteira pra não dividir a conta. Dá tapa forte nas costas quando encontra um conhecido. Aperta demais a mão daqueles a quem é apresentado, ou cumprimenta com a mão mole, apenas com a ponta dos dedos. Gesticula demais. Aprecia vinhos e charutos e joga papel de bala no chão.

Mala Men é metido a entender de História, Filosofia e esoterismo. Teatro e Literatura são parte do seu ofício. Pra ele, Getúlio se enforcou com um tiro; Dom Quixote é obra de Camões e Santos Drummond de Andrade inventou os aviões. Acha que Sócrates era fraco pra bebida e que O Avarento foi escrito por Molinete. Gosta dos poemas de Mario Quitanda, das músicas de Lourival Caymmi e sua filosofia de vida é: “Quem bate apanha, quem esquece não!” Seu sonho é aprender várias línguas e tornar-se um troglodita. Pode ser culto ou não, mas sempre erra com convicção. Acha-se irresistível. É o gostosão do pedaço. Tenta (apenas tenta) praticar qualquer esporte. Diz ter sido o voto de Minerva do concurso que elegeu o maior anão do mundo.

Mala Men descobriu que o sol é a maior coisa que tem na Terra e agora pesquisa como o astronauta fez pra pousar a nave espacial na lua minguante. É puxa-saco, fofoqueiro e palpiteiro. Não cede o lugar aos idosos na condução. Não tem carteira de habilitação, mas é exímio co-piloto. De carro, avança o sinal vermelho, fecha todos os motoqueiros; se está de moto, quebra os retrovisores dos carros e usa o capacete no cotovelo. É cheio de preconceitos. Inventa simpatias. Aproveita o primeiro incauto que aparece pra desabafar. Tudo o que alguém faz de bom, ela já fez muito mais e melhor. E de ruim, ele já tinha avisado! Quando se faz de coitado, se reclamam fica bravo.

Mala Men só gosta de discutir futebol, política e religião. Assovia quando passa um “mulherão”. Entrega panfleto de propaganda no calçadão. Reutiliza papel de presente, não tampa a pasta de dente; liga a cobrar, de celular, pro telefone da casa da gente. Gosta de beber uísque, e de oferecer aguardente. De comer caviar e servir bolo de fubá. Gosta de falar difícil pra se fazer entender. Faz gozação com os amigos e lhes causa embaraço. Quer sempre o maior pedaço. Lambe a tampa do iogurte; bota foto que tirou com um artista no orkut.

Mala Men sempre aparece sem ter avisado. Ilustra os relatos com velhos ditados. Acha-se superior, faz questão de ser chamado de Doutor, mas não sabe informar no que é que se formou. Diz que pra ele dinheiro não é problema, mas pechincha até pra comprar um Sonrrisal e um Eparema.

Mala Men é o maior cara-de-pau: “Você engordou? Sabe com quem está falando? Você usa lente? Pagou quanto? Lembra de mim? Você ainda vai querer isso? Bonito sapato! É ortopédico? Não conta o que eu te contei pra ninguém...”

Tenho certeza que vocês que me lêem, devem ter se lembrado de muitos outros (de) feitos perfeitos do Mala Men. E que a essa altura estão implorando: “Livrai-nos!”–até de um cronista mala também...


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