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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

domingo, 10 de outubro de 2010

Crônica: A Intimidade não Passa - Erivelto Reis

A INTIMIDADE NÃO PASSA
Erivelto Reis

Dizemos que temos intimidade com aqueles com os quais partilhamos particularidades cotidianas, certo? Ou será que a intimidade é a permissão dada para que outros possam conviver com o personagem que representamos ou com aquele que desejaríamos representar? Na dúvida, não arrisque: íntimo só o seu pensamento. Tudo mais é assessório.
Intimidade é conhecer os olhos do outro. É a impressão presa na retina: a indevassável região que marca indelevelmente a individualidade humana. Intimidade é brincar de ser, mesmo por alguns minutos, o que gostaríamos que outro soubesse que somos ou gostaríamos de ser. Intimidade é beijo nas pálpebras, são mãos entrelaçadas olhando um pôr-do-sol, é respeitar o silêncio alheio e partilhar a dor do outro se isso o ajudar a carregar o seu fardo.
Intimidade é dizer a verdade como se recitasse um poema, declamando as pausas exatas que servirão como espaço para que as portas da consciência e da sensibilidade sejam abertas. Intimidade é lamentar a ausência, intimidade é buscar coerência na incoerência, é se pôr no lugar do outro.
Intimidade é respeitar as fraquezas, é ajudar a superar os limites e transpor as barreiras. Não sendo constante, ser intenso; e sendo intenso, ser sincero. É ser educado, mesmo supondo-se dispensado de sê-lo, é ter zelo, é ter jeito. Ser íntimo requer conciliar qualidades, ousadias e vontades. E constitui um grande desafio: partilhar a intimidade como se regido por protocolo, ser sempre natural em face do que, às vezes, pode parecer diferente e não sentir tédio diante da normalidade apresentada como cartão de visita.
Conhecer a intimidade de alguém ou partilhar a sua, é uma via de mão dupla. Não se compensa intimidade com mais intimidade. Ela é um bem que cessa, mas não passa. Intimidade se paga com amor. Mesmo sabendo que, nem sempre, amor com amor se paga.

2 comentários:

  1. Intimidade é partilhar o silêncio alheio. Sublinhando simbolicamente aqui.

    Confesso que acho isso que chamam de intimidade um perigo. As pessoas se atropelam em nome dela...

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  2. Caro poeta, ficou bem definido o instituto da intimidade.
    Mas como evitar este "perigoso acessório", se inocentemente sempre caimos nas armadilhas das falsas reciprocidades?

    Joanair.

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