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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

domingo, 31 de outubro de 2010

Um Poema de Elisa Lucinda

DEUS RI
Elisa Lucinda

A lista de mortos da gente vai aumentando com o tempo.
Quando eu era pequena não tinha noção desse morre, nasce…
Mesmo porque ninguém meu morria.
Tudo tinha um quê tão definido de eternidade,
tudo durava tanto e a vida não faltava.
A vida era pontual como os quintais e as goiabeiras ali.
Todo dia ali, existindo.

Eu não tinha a mínima noção desse vai e vem,
desse revezamento, desse rodízio da humanidade:
quem vai pro saque, quem sai do jogo, quem é escalado,
quem vai pra reserva.

Nada disso havia na minha menina. Agora não.
Agora morreu Tião Sá, o filho do Joelson, a mãe da Márgara,
Chiquinho Brandão, minha mãe, Bukowski, Cazuza, Grande Otelo,
Mario Quintana, Senna, Fellini, Sérgio Sampaio e tantas
mil gentes engrossando a fileira da bola fora.

O itinerário das vias de cada um vai estourando como bolas
de aniversário na minha cara e vai ficando longe o tempo
em que os meus não morriam, nem quando eu queria.

Deus, com certeza, ri. Não de sarcasmo,
mas pelo costume de ver passar as boiadas e
de olhar para elas despencando na curva final das planícies…

Pra onde? Só Deus sabe.
E é por isso que Ele ri.

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