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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

domingo, 5 de agosto de 2018

Poema: "Navalha", de Erivelto Reis


Navalha
Erivelto Reis

A fé não salva ninguém do sofrimento
Mas garante alguma resignação ao passar por ele.
Olho pra esse horizonte que desponta,
Perpassa-me como um alfinete,
Costura-me como uma agulha...
É o fim da picada.
Nenhum viver todo é inofensivo!
Quando foi que dar e receber amor
Ficou tão nocivo?!
Eros doente atira pra matar
E ver arder no fogo a paixão do instinto.
A luz morta de uma fagulha apagada de ex-ser...
Pavio de vela, capítulo de não-vê-la:
A vida que podia ser,
E não a vida como ela não é.
A-feto, inumano, dor.
Cortei-me com uma faca cega,
Furei-me com uma tesoura sem ponta,
Tomo um caco de garrafa como último gole.
Porto uma lança e um dardo
E tomo uma surra
Com espada de são Jorge pra curar meu porre.
Tanta esperança pra nada
Tonta, a esperança portava
Um canivete suíço sem função,
Nada há que me valha!
Uma navalha enferrujada
Pra cortar impulsos,
Um estilete sem estilo na poesia
E na conversa fria
Em uma mesa de botequim
Que se tornou essa (pa-)rede social sem fim!
Ninguém olha pra mim,
Ninguém me escuta,
E nos glóbulos vermelhos
Que essa artéria histérica expulsa (va)
Ali onde eu caí, qualquer um caía...
Menos chuva, menos lágrima.
Ali onde me expus, qualquer um sangra (va)!
Pus e vísceras à mostra,
Mas quem se preocupa (va).
Minha selfie é um quadro bélico,
Abstrato, surreal e cubista
De alguém que se perdeu da vida.
Sublime, estampe canecas e camisetas com meu drama!
Que vossos travesseiros afundem vossas consciências
Como âncoras.
Viver nem sempre é estar vivo:
É vegetativo entrar e sair
De um perplexo estado de coma.

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