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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Poema: "Centavo", de Erivelto Reis

Centavo
Erivelto Reis
Você pode até pensar
Que eles gostavam mais de nós
Quando éramos pobres,
Quando éramos gueto,
Quando éramos medo,
Quando não falávamos,
Quando não os encarávamos.
Eles jamais gostaram de nós!
Gostavam que nossa pobreza
Fosse o alimento de sua fortuna.
Gostavam que em nossos "guetos"
Nos aprisionássemos e os deixássemos livres
Para nos discriminar e ameaçar e punir.
Gostavam de nosso medo, pois ele regulava
O nosso salário, a nossa circulação,
Nosso paladar, nossa vida
E o desconhecimento de nossa força.
Gostavam do nosso silêncio
Porque ele passaria, a um desavisado,
Ou a um déspota, ou a um cínico,
Como consentimento.
Eles gostavam dos nossos olhos
Grudados aos seus sapatos
E do teatro de nossa subserviência,
Para que não lhes demonstrássemos
A sua falta de sensibilidade e de inteligência...
De olhos para o chão
Arquitetamos o horizonte de nossa sobrevivência.
Mas o nosso coração enxerga longe:
Um distante-perto momento
Em que a opressão acabe.
Há coisas sobre nós, gente simples,
Que essa gente hedionda não sabe.
Eles jamais cogitaram gostar de nós!
Você pode até pensar...
Mas há um sistema que alimenta
O abismo
E os mantém a salvo
De nós
E do fato de que, apesar de todas as dificuldades,
Somos capazes de realizar nossos sonhos.
Dignamente, sem vender ou trair os nossos
Em troca de migalhas de favor algum.
Um dia vão entender
Que a sua covardia e violência têm um preço
E que nós vamos cobrar cada centavo
Um por todos,
Um por um.

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