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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

terça-feira, 8 de junho de 2021

Poema: "Vinho do Porto", de Erivelto Reis

 

Vinho do Porto

Erivelto Reis

 

A rua como uma passarela de pessoas sem rumo

Com almas amedrontadas

Escondidas lá no fundo.

Há um espírito livre aprisionado

Pela semântica narcísica

Que diz e age como se todos

Os verbos e versos fossem reflexivos.

Queria abraçar meus amigos

E dizer-lhes que o melhor está por vir.

Não posso fazer isso.

Não tenho qualquer certeza.

E muitos ficaram no passado

Restritos entre datas de nascimento e morte.

Nomes circunscritos.

No momento, toda canção é fúnebre,

Toda palavra é lamento,

Todo olhar é um pedido de ajuda.

Mandaram um áudio.

As novas ordens serão dadas

Na próxima reunião on-line.

Arrombarão nossos armários na segunda.

A literatura por vezes tratada

De forma rude, reles, rasa!

Eles fingem empatia,

Apenas fingem estar na nossa pele...

Se puder, fique em casa!

Proteja sua saúde, mas saiba:

O autoritarismo brota como arbusto vigoroso

Entre as pedras, hera do muro, do lodo,

Do limo e, em alguns casos,

Em jardins outrora tão bonitos.

Se puder, reaja.

Eu ia te mandar um e-mail,

Perdi tempo, perdi a senha...

O Banco mandou carta de cobrança!

Os correios não me entregam o que encomendo,

Mas sabem o meu endereço quando eu devo.

Dizem que é área de risco

Agravada por uma mancha criminal:

A memória ficou cheia ou então escassa.

Tinha uma ideia de armazenar o poema na nuvem.

No entanto, vem o cotidiano e invade e devasta o poema.

Tempera um copo do que deveria ser

Pura água mineral. Turva.

Com meio quilo de refinado sal.

A sede aumenta na presença do líquido...

Esperança desmorona, não importa!

Quanto mais me espiritualizo ou qualifico

Mais vejo que não sei de nada.

Eu queria viajar contigo.

Arrumar um novo emprego, um novo hobby,

Compartilhar a fórmula

Que inventei para a produção artesanal

De vinho do Porto.

Ano que vem nos veremos.

Se você ainda estiver vivo,

Se eu não estiver mais morto...

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