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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

domingo, 20 de junho de 2021

Texto: "Breve consideração sobre Chico Buarque no dia de seu aniversário (19/6/2020)", de Erivelto Reis

 Breve consideração sobre Chico Buarque no dia de seu aniversário (19/6/2020)

Erivelto Reis

Chico Buarque agrega em torno e a partir de sua criação artística e postura muitos valores que são caros aos brasileiros: o talento para a música, a timidez que ameniza a força avassaladora de sua intelectualidade, uma predileção declarada por samba e futebol, um charme algo europeu algo nativo inquietante, uma fibra moral que se mantém ao longo de toda a sua trajetória, sem no entanto, aproximá-lo de um moralismo ou puritanismo, um olhar apuradíssimo para a estética e as inquietações do que se situaria numa perspectiva feminina do mundo; erudição para o mundo das artes e da cultura que faz com que seus livros tenham estabeleçam e contenham referências as mais diversas cujos ecos dialogam desde Eurípedes até chegar a Machado de Assis. Embora oriundo de uma classe média pertencente à elite intelectual brasileira, construiu e ressignificou alguns ideais e estereótipos cristalizando-os definitivamente no imaginário lírico do brasileiro: do malandro carioca, do trabalhador nordestino explorado, do homem suburbano amedrontado diante da proximidade do algoz, uma passionalidade latente e trágica nas relações afetivas, ironia e rebeldia arquitetadas, forjadas milimetricamente, não deliberadas para expor a obtusidade e violência dos poderosos brasileiros; coragem e e lirismo para falar da dor, do assassinato, da tragédia social e histórica desse país desde o negro escravizado e torturado até a execução execrável e covarde de uma mãe que só buscava por seu filho. Chico Buarque dialoga com o teatro, a literatura a poesia, a música o cinema numa antropologia da arte de tal forma grandiosa que o equipararia à sede de Mário de Andrade em conhecer a real face de nossa arte, de nossa língua e cultura. Mesmo no olho do furacão da censura que se instaurou no país, jamais se calou e foi capaz de saudar o grandioso povo português no momento exato de sua revolução. Foi íntegro e nunca ambíguo quanto à sua escolha pelo pensamento de esquerda e associado às causas democráticas em favor do povo. Banhou-se nas águas do Leblon, constituiu uma linda família, ganhou e perdeu festivais, foi vaiado, estudado, endeusado e execrado. Angariou amizades desde entre as pessoas mais simples até líderes mundiais, compôs canções que estão entre as mais importantes em nossa música, ganhou inimigos entre os poderosos, intelectuais e entre os que por preguiça, incapacidade ou desinteresse rotulam tudo o que não entendem (ou que os denuncie e aos seus atos perversos) de "hermético". Salve, Chico Buarque, o mais antipolêmico (porque discreto) e contundente (porque combativo e arguto militante na arte e na vida) compositor da épica trajetória brasileira no século XX.

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