Nulo
Erivelto Reis
Escrever um poema, trocar o tempo pouco
Que suponho que me reste,
A juventude lasciva
das paixões e das palavras,
O fogo das ideias e dos ideais de revolução
Por um poema, um verso bom apenas...
Que sobreviva e que force a arqueologia,
A procura de meus restos e rascunhos.
Para que no futuro, no apagamento eterno
Da materialidade de qualquer
Circunstância ou referência
Que me acorde do fundo de meu sono sepulcral,
Eu não precise lidar
Com o mundo que eu pensava que era meu,
Com um presente que eu tive e não me deram,
Com uma memória, Cérbero, às portas do inferno
De qualquer sentido literal ou metafórico
De algo que eu não criei
E que ao me lerem, me atribuam.
Escrever para não ser
Um poeta descoberto como um fóssil
Ou ter as palavras derretidas pelo magma:
Síntese, cinzas, sintagma.
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