Crocodilo
Erivelto Reis
Porque professor,
Porque proletário,
Porque contratado,
Porque temporário,
Intimidado,
Desvalorizado,
Precarizado...
Porque inconformado,
Porque explorado,
Porque assalariado,
Assediado,
Silenciado...
É que, quando eu posso,
Eu ponho os pingos nos is!
Eu boto o dedo na ferida,
Eu chuto o balde,
Eu soletro os nomes,
Eu parto pro debate,
Eu furo a panela da intriga.
Porque sei onde o problema habita,
Porque sei do oco da marmita,
Porque sei do rombo do consignado,
Porque sei da extorsão do banco,
É que não caio na lábia do sacerdócio.
É que não vou na onda do mártir,
É que não vou bancar o santo.
Porque sei o quanto odeiam meu descanso,
É que não vou baixar a crista
Quando alguém vier cantar de galo,
Quando um raso louvar o atraso,
O proselitismo, o niilismo,
E achar que é prosaico pisar no meu calo.
Porque professor eu sei que não sei de tudo,
Mas sei reconhecer o que é precário,
O que é precarizar com rubricas e semântica,
Porque sinto na pele o peso dessa arrogância.
Percebo o que é covardia, o que é absurdo.
Sei que adoram precedentes,
Realocação de verbas e ausência de licitações,
Crachás e broches hierarquizantes,
Enquanto flanam longe do chão da escola,
Ciosos de seus cargos e de suas comissões.
E enxergo a falha épica em seus discursos,
As suas lábias e as de seus pupilos,
Enquanto esperam que eu cale...
Enquanto esperam que eu seque
As suas lágrimas de crocodilo.
Eis o ápice de seu cinismo.
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