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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Poema: "Bibelôs", de Erivelto Reis


Bibelôs
Erivelto Reis

Tenho uma cristaleira cheia,
repleta de bibelôs quebrados
isso mesmo: bibelôs.
relíquias de momentos memoráveis,
relicários devotados aos santos e santas
aos quais rezei em prece fervorosa
de amizade e admiração
santos aos quais nenhum favor neguei
e que nenhum milagre me ofertaram
santos que me amaldiçoaram
mártires do próprio ego
bibelôs quebrados,
raríssimas antiguidades,
cristais com pequenas fendas
com pequenas trincas
palavras puras em lexicografia
e horrendamente obscenas
em ardis intenções
aí os conservo,
sei a expressão que tinham
quando intactos
e congelo a memória da expressão
dissimulada dos primeiros indícios
de que se partiriam em mil pedaços
de que tentariam me cortar com seus estilhaços
─ e não é que de fato alguns me estraçalharam?! ─,
kamikazes de amizade
simuladores de lealdade
morem na minha cristaleira,
prisão de memória e espelho,
morem apenas lá, covardes
guardo todos,
convencido de evitar que seus cacos
se espalhem por toda parte
bibelôs quebrados:
ilusão de quem coleciona desastres.

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