da paixão
Erivelto Reis
na primeira estação estavam os cães raivosos
na segunda, os atiradores de pedras
na terceira, os que proferiam calúnias
na quarta, os que se divertiam com a dor do outro
na quinta, os que conspiravam a história que os
absolveria
na sexta, os ferreiros que forjaram a lança da inveja
na sétima, os invejosos que espetaram a lança
na oitava, as mulheres que sofriam a opressão por só
querer o bem
na nona, os velhos e a fadiga de seus olhos por
reconhecer o mal
na décima, os homens íntegros que sabiam que em breve
seria a sua hora
na décima primeira, a horda de traidores
na décima segunda, os hereges e beatos cada qual se
fingindo do outro
na décima terceira, cada um que fez alguma coisa para não
fazer nada
na décima quarta, os lamentadores, os carrascos e os que
viram os sonhos ruírem
convulsão de vozes, estertor de alma:
uns pensam e se calam:
“meu deus, sacrificaram mais um inocente!”
outros não pensam e se ufanam:
─ que bom, matamos mais um inocente!
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