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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Poema: "Aboio", de Erivelto Reis


Aboio
Erivelto Reis
A partir do vídeo de Cícero César sobre o porteiro Bento

Porque nunca é dia pra estupidez alguma
Por que é sempre dia de alguma estupidez?!

Dos homens simples,
Daqueles que exercem as funções
Vitais de navegação da vida:
O porteiro Bento, o jardineiro Zé, por exemplo,
E de mulheres, em igual sacerdócio,
(Domésticas, babás, cozinheiras)...
As profissões do cuidado – a lista é vasta e altaneira –,
De anti-ócio e sobrevivência.
Você depreende que ensinam paciência para a organização
E impaciência para a tirania.
Você depreende que praticam contemplação
– sinal de sabedoria – ,
Com o que seja belo e sem aparente sofisticação,
Como o voo das aves menos nobres,
Como pardais e cambaxirras,
E a oposição silenciosa que fazem à estupidez e à antipatia!
O trabalhador mais simples é empático
Aos que sofrem e não ao sofrimento!
E trabalha cantando, aboio da própria sina,
Agradecendo e sorrindo,
Num estado gerúndio de quem vai se afogando
Mas que se vai acudindo.
De quem sabe que o mar é grande mas que em terra termina.
Acuado, com medo do desemprego,
Da grosseria, do status ou da insensibilidade do empregador,
E do mês a mês em que o salário vai sumindo
E se traduzindo em menos açúcar no café,
Menos manteiga no pão, menos café, menos pão,
Mais fé, mais resignação e mais labor.
É essa gente verdadeira que ensina o bom brasileiro
A ter boas maneiras, melhor Educação.
Quisera um país em que o trabalhador mais simples
Não fosse menosprezado e que seu salário
Não fosse tão aviltantemente baixo.
Da manufatura de suas mãos,
De seu tempo tão mal pago
Nasce a atenção e o cuidado aos vossos filhos,
Vosso patrimônio e vosso intelecto.
Que haja loa aos bons doutores
E pelo quanto se louve aos não doutores
(falsos doutores e seus cúmplices)
Mas que não se perca o respeito
aos trabalhadores mais simples.
É uma secura de delicadeza que podia chover
Em consideração aos que produzem, trabalham
E zelam por sua casa, seu patrimônio!
E pelo que você põe na mesa.
Trate com mais carinho ao seu José,
à dona Marina, ao seu Antônio, à Maria Teresa...
Tantos nomes, tantos sonhos!
Eles até silenciam e abaixam a cabeça,
Mas têm um mundo de histórias no seu embornal
E as contariam com orgulho
Não houvesse tanto preconceito e desigualdade social!

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