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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

quarta-feira, 6 de maio de 2020

Poema: "Patamar", de Erivelto Reis

Patamar
Erivelto Reis

Ao céu dos suicidas
só chegam aqueles
cujos sonhos morreram ainda em vida.
Aqueles cujas aspirações humanistas
pessoais e coletivas sucumbiram
ante o desamor, o egoísmo e a falta de sensibilidade
de pessoas que podiam ver e não podiam sentir
o cupim da dor a corroer o tempo de existir...
Não se lhes imponha nenhuma
sabatina ética, religiosa ou moral.
E sobre sua biografia não decalquem
qualquer rascunho caricatural.
O coração ainda batia, mas a vida aspirada
essa já não existia...
Se não forem louvadas ou respeitadas
a sua existência, memória e resiliência,
que não lhes sejam computadas como covardia
ou desistência a sua corajosa e derradeira Rebeldia.
Há suicidas de há décadas,
que apenas não deram cabo da própria vida,
que respiram e andam e falam...
Mas não tiveram eloquência pra escrever
bilhete, e-mail ou tuitar
que se encontram em outro patamar...
O que todo mundo sabe só de olhar,
só de ver a inocência de perseguir
o calendário fisiológico e ilógico
que afirma estar vivo quem já partiu há tanto tempo!
Viver assim não é menos terrível
que o suicídio, a última solidão possível...
Ao céu dos suicidas
só chegam aqueles
cujos sonhos morreram
ainda em vida.
Não lhes cabe punição,
qualquer imprecação, ou pena, por menor que seja!
Não lhes cabe culpa:
agiram em legítima defesa.

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