Quem sou eu

Minha foto
Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Reflexões sobre a Educação Brasileira, por Erivelto Reis

Reflexões sobre a Educação Brasileira
Erivelto Reis

Os Governos têm, historicamente, muita culpa pela desvalorização da educação no país. E a iniciativa privada acha que vai se dar bem colocando máquinas pra corrigir trabalhos, abocanhando lucros sem produzir pesquisa e efetivo conhecimento, transformando suas unidades em balcões de negócio (vendendo a ilusão do diploma, da formação, sem que haja a condição do desenvolvimento individual de seus alunos e alunas e/ou, nos casos de ensino superior, preparo real para o exercício digno da profissão) e coagindo profissionais de todos os níveis que estão em seus quadros. E a própria sociedade que, em parte, despreza, desprestigia e desconhece o trabalho dos profissionais da educação e acaba, talvez até sem se dar conta, contribuindo para essa visão deturpada que menospreza os profissionais e relativiza a importância da educação para a transformação da sociedade, a ascensão pessoal e profissional dos indivíduos, a produção de pesquisa e conhecimento e a soberania do povo, e também assumindo parte da responsabilidade por esse quadro perverso.
Em países nos quais a educação é prioridade, toda a cadeia de construção do conhecimento é respeitada e valorizada. Aqui no Brasil qualquer um acha que entende de educação (para gerir e exercer) e que entende mais e melhor do que os profissionais. Quando as grandes corporações tiverem dominado todo o mercado, a educação pública gratuita e de qualidade não mais for possível à população mais pobre e for um sonho de consumo de grife, palatável à classe média, e as políticas de graduação e formação tiverem atingido um nível de exclusão e cerceamento de tal magnitude que a formação para o exercício do magistério seja facultado apenas a um grupo da elite preconceituosa desse país, aí sim, as pessoas talvez aprendam que no exercício diário da profissão do professor, do pedagogo, dos profissionais de educação reside uma última chama, um último sopro, um último grito por liberdade, igualdade e democracia.
Claro que um quadro terrível como este não é o que eu desejo, mas é o que paulatinamente se insinua. Pobres sem direito à educação, corrupção e supervalorização de quaisquer contratos entre iniciativa privada e governos para que as pessoas possam estudar. Será a era dos salários ainda mais miseráveis, da instabilidade, da censura intelectual, do toma lá da cá, da maquiagem nos dados (muitos desses processos já vêm ocorrendo há tempos em muitas situações) e destruição do professorado como classe. As bravatas, a violência, as tentativas de intimidação contra os professores são o esgoto desses pseudointelectuais e políticos criminosos, fascistas e reacionários, que somente pela tentativa de indigência cultural e educacional da população sustentam-se em seus pódios e quadros de favorecimentos e regalias, sejas estes e estas quais forem. Quem não ensinar seus filhos a valorizar a educação, os profissionais que nela trabalham e a respeitá-los estará condenando o país a indigência.

Não é EaD,
é ensino remoto
até remoto.


Primeiro cancelaram a realização de concursos públicos durante 20 anos, depois desmontaram as mínimas garantias trabalhistas. Na sequência, aumentaram de 11 para 14% os descontos da previdência dos servidores (que desde há muito já não tinham tido reajustes) para uma aposentadoria que não garantirá 100% dos vencimentos. Propagaram absurdos contra a Universidade pública e a pesquisa, reduziram carga horária de disciplinas essenciais na formação dos nossos alunos e alunas, permitiram a mercantilização ultrajante qualitativamente da educação particular em todos os segmentos. Por agora, durante a pandemia, congelam qualquer tipo de reajuste de salário/reposição inflacionária durante 18 meses. Nomeiam a EaD forçada e geradora de desigualdade entre os estudantes (sem computador e celular ou acesso à internet) com uma designação que não observa a legislação, os princípios básicos da Educação a distância, e assediam moralmente os professores e professoras (relatório de login na plataforma, horário espelhado ao da grade presencial - isso tudo com os recursos do próprio professor - seu computador, sua internet e energia elétrica, seu espaço de casa) e querem que os/as profissionais sejam tolerantes com esses desmandos?! Mantém contratos de terceirização com empresas que não garantem sequer o pagamento do salário mínimo líquido aos seus funcionários e funcionárias e nem o cumprimento de datas de pagamento regulares. Chip, apostila... Isso é a ponta do iceberg. Depois de décadas de gestores que desmerecem e desrespeitam a carreira docente, de salas superlotadas, de falta de recursos... Tem 20 anos do início dos anos dois mil. Quase duas gerações educadas na pós-modernidade e essas pessoas que se dizem gestores não entenderam que valorizar os profissionais da educação é o primeiro passo pra mudar essa perspectiva perversa em relação à educação?! Francamente...


Não se pode falar em educação libertadora, oprimindo-se e assediando-se moral e psicologicamente os profissionais. Sem lei, sem regulamentação, sem apoio a professores e alunos, com censura e desrespeito à legislação, a pandemia ganha uma dimensão ainda mais perversa e assustadora.


Todo assediador é um espécie de ditador.

Contra a barbárie todas as estéticas da arte.

A esquerda não precisa ser de grife. Mas precisa ter propósito e atitude.

Asfixiar definitivamente o funcionalismo. Tentar convencer a população de que o funcionário público é um ser privilegiado. Vergonha desse governo. Vergonha de uma oposição tão desarticulada e insossa. Incapaz de comunicar algo a alguém que já não esteja na militância ou comprometido com os princípios básicos de uma democracia que preze a dignidade da vida humana. Convoca pras comissões, chama a dar esclarecimentos, apresentar detalhadamente os projetos, tranca as pautas, explica pra população, pauta centrais e segmentos da sociedade, cria agenda, faz autocrítica, põe os caras pra trabalhar na articulação, tira da ribalta, abre espaço pro novo ... Os argumentos do governo são rasos e sem sustentação, e os caras da oposição parecem garotos de grêmio escolar...

Cadê a oposição para discutir, elucidar, explicar às pessoas o que esse tipo de entrevista significa em termos de ameça e desrespeito aos servidores e ao que pertence ao povo, como água, as estatais que geram divisas, por exemplo?!



Nenhum comentário:

Postar um comentário