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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Poema: "O Rapa", de Erivelto Reis

O RAPA

Erivelto Reis

 

Assim que eu vi a carreta dobrar a esquina

E os mano desfilando de fuzil, pistola e carabina

Eu pensei agora é que não vamo ter sossego

Mas era o bonde pra buscar o arrego

Mas era o bonde pra mirar nos preto,

E nos moleque, nos barraco, nos cachorro,

Nos tiozinho com as carteira de trabalho,

E nos crente com a bíblia sob o braço...

Eram os home pra pegar o bonde

Era o bonde esperando os home

E o céu coalhado de helicóptero e drone

E as família tudo no sanhaço...


Tavam matando todo dia o mesmo

Tavam matando todo dia um novo

Tavam batendo nos do próprio povo

Tavam batendo em todo mundo a esmo

 

Assim que eu vi a carreta virar na esquina,

Vi meu barraco passar na TV

Vi minha rua passar na TV

Eu tive medo de outra chacina

Na minha rua só de lama e lixo

A minha rua só de medo e risco

A minha rua que não tem escola

Só uma igreja e uma mercearia

Só um terreiro e uma padaria

E perguntavam pelo movimento

Àquela hora ninguém nem respirava

Àquela hora ninguém se mexia...

 

Tavam matando todo dia o mesmo

Tavam matando todo dia um novo

Tavam batendo nos do próprio povo

Tavam batendo em todo mundo a esmo

 

Assim que eu vi a carreta virar na esquina

A mesma cena sempre repetida,

A mesma história que eu já conhecia:

O filho morto, a filha órfã, a mãe viúva,

O pai sumido e uma pá de corpo numa vala

E cala boca, não perguntei nada

E vai dizendo onde é que fica a boca

E os bagulho, e as peça e as parada?!


Assim que eu vi a carreta virar na esquina... 

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