O RAPA
Erivelto Reis
Assim que eu vi a carreta dobrar a esquina
E os mano desfilando de fuzil, pistola e carabina
Eu pensei agora é que não vamo ter sossego
Mas era o bonde pra buscar o arrego
Mas era o bonde pra mirar nos preto,
E nos moleque, nos barraco, nos cachorro,
Nos tiozinho com as carteira de trabalho,
E nos crente com a bíblia sob o braço...
Eram os home pra pegar o bonde
Era o bonde esperando os home
E o céu coalhado de helicóptero e drone
E as família tudo no sanhaço...
Tavam matando todo dia o mesmo
Tavam matando todo dia um novo
Tavam batendo nos do próprio povo
Tavam batendo em todo mundo a esmo
Assim que eu vi a carreta virar na esquina,
Vi meu barraco passar na TV
Vi minha rua passar na TV
Eu tive medo de outra chacina
Na minha rua só de lama e lixo
A minha rua só de medo e risco
A minha rua que não tem escola
Só uma igreja e uma mercearia
Só um terreiro e uma padaria
E perguntavam pelo movimento
Àquela hora ninguém nem respirava
Àquela hora ninguém se mexia...
Tavam matando todo dia o mesmo
Tavam matando todo dia um novo
Tavam batendo nos do próprio povo
Tavam batendo em todo mundo a esmo
Assim que eu vi a carreta virar na esquina
A mesma cena sempre repetida,
A mesma história que eu já conhecia:
O filho morto, a filha órfã, a mãe viúva,
O pai sumido e uma pá de corpo numa vala
E cala boca, não perguntei nada
E vai dizendo onde é que fica a boca
E os bagulho, e as peça e as parada?!
Assim que eu vi a carreta virar na esquina...
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