Ruflar
Erivelto Reis
É porque amamos muito
Que perdemos tanto
Quando o mínimo que esperamos
Não está no fim do romance
Que nos lê...
Só resta virar a página,
Enlutar-se, esquecer.
É porque sonhamos muito
E queremos algo que é tão raro:
Um outro ouro puro
E primordial...
Um gesto, um tempo, um perfume,
Um sabor, uma palavra, um som essencial.
Eu estava aqui tão atento a tudo
Que nem notei você saindo.
Estava lutando, mesmo estando de luto...
Eu estava voando tão alto
Que nem me senti caindo.
É porque sonhamos, amamos e queremos muito
Que aquilo que ainda houver,
E o que tiver havido
Não sacia...
É uma reação tardia,
A uma casa vazia,
Em perpétua quarentena.
Pássaro sem asas,
Ruflar de dar pena.
Eu estava voando tão alto
Que nem me senti caindo...
Eu estava
imaginando o céu
No exato instante em que desabei no abismo.
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