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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

MEU TESTAMENTO

MEU TESTAMENTO

I
Deixo para os meus amigos
A vida que eu gostaria de estar vivendo
Deixo a vida, meus amigos
Deixo amigos, vida minha?

Deixo para os meus poemas
As mais belas rimas
As que me fizeram bem apenas
E que me fizeram dar a volta por cima...
É que as encontrei − todas −
Nos versos de diversos outros Poetas.
Mas, mesmo assim eu tentei!

Para a mulher que amei
Deixo a certeza
De que a amei o mais que pude
E apesar desse meu jeito meio rude
Peço que entenda, por favor,
Que esse testamento
É minha última e menos íntima
Declaração de amor.

Para os meus filhos
Deixo a alegria que eles me emprestaram
Desde o dia em nasceram até aqui
E que me fez um homem mais feliz!
Deixo o agradecimento
Por todos os bons momentos
Que eu já passei
Expresso como último desejo
Na Poesia mais triste
Que eu jamais criei.

II
As contas que eu não paguei
As desculpas que eu não pedi
Ou as que não aceitei
Os caminhos que eu não trilhei
Os trabalhos que eu não concluí
As fotos que eu não revelei
A ausência repentina do Luiz
Os pecados que eu não cometi
As piadas que eu não entendi
Os sonhos que não realizei
O medo de altura
O excesso de gordura
O pavor da solidão
Os olhos do meu pai
A timidez da minha mãe
E os meus três irmãos.

III
Parto de peito entreaberto...
Deixando:
Os livros não lidos
E os mais relidos
Os discos do Roberto
Poesia com “P” maiúsculo
Toda a Poesia do Primitivo e do Bandeira
A saudade de Domira
A injustiça sem reparo
Com o Simonal e o Erasmo
Digo adeus ao marasmo,
À ironia e ao sarcasmo.
Entre uma ponta de amargura
E uma outra, de esperança:
A vontade de ter tido outra infância.

IV
Despeço-me, nesse dia,
De tudo aquilo
Sem o qual eu não viveria:
A Família, a Palavra,
A Saúde e a Poesia...
Tudo tão real e abstrato
Quanto o Saber, o Sentir,
O Silêncio, a Paz,
A Democracia
E o Pensamento...
Por isso a beleza da vida
Por isso essa despedida
Por isso essa melancolia
Por isso esse lamento!

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