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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

domingo, 5 de janeiro de 2025

Poema: "A dormição de Maria", de Erivelto Reis

A dormição de Maria

Erivelto Reis
Tenho assuntado sobre:
Cada mãe ao lado de um lençol improvisado,
Feito tapete e lona,
Sobre o escombro, ruína humana
Estirado no asfalto, ensanguentado
E sem vida...
Tem um pouco da resignação de maria.
Tem um pouco do pranto de maria...
E por que não teria?!
Se a virgem teve a dormição, a assunção como destino,
Comparada à mãe menina, a mãe solo, a mãe bravura
De um filho exterminado, massacrado...
Que teve a dor como missão,
Penso que as duas mereceriam redenção.
No altar destinado à maternidade,
Às vezes falta respeito,
Às vezes falta sororidade,
Às vezes falta humanidade.
Às vezes falta compaixão.

Poema: "O corpo incorrupto de Bernadete", de Erivelto Reis

O corpo incorrupto de Bernadete

Erivelto Reis

Escreveram no laudo da necropsia: Saudades,
Memórias,
Lembranças,
Nostalgia.
Num esquife de carne e osso
Repleto de dores
E coração batendo
(Ameaçando parar a qualquer momento...)
E um milagre a que chamaram
Sentimento.
Causa mortis:
Silêncio
Frustração
E desalento.
Exumados,
Examinados
Ou clinicados,
Nada nos redime!
Não há alma
Nem o lugar exato
Em que ela ficava.
No entanto, procuraram...
Viver não é preciso!
Sacralizar é preciso!
Acharam um compromisso
Anotado a lápis
Numa agenda de esquecimentos,
Um souvenir de uma viagem
Feita há muito tempo
E um marcador na página
Do livro que contava
A história das aparições
À jovem Bernadete.
Depois disso, nada mais.
Só se erguem catedrais
Em homenagem aos amores imortais.