OXIDA
Erivelto Reis
Que forma tem um poema
Enquanto vai sendo criado?
Castelo de cartas desmoronadas,
Castelo de areia que a onda do mar afoga?
Casa vazia, pétala orvalhada?
Sabe tudo quem começar a ler um poema
Sem querer saber de nada!
Quem começa a ler um poema
Como alma que sai do corpo
Para dar uma caminhada.
Que forma tem um poema
Quando ele em nós se cala?
Banquete de palavras raras
É roupa de gala alugada?
Nascente de água contaminada
Sensação de calor,
Loucura, frio e febre?
Deve matar a sede ou nos matar de cólera?
Será capaz de distinguir entre perfume e éter?!...
O que há de estranho por detrás de um poema?
Intenção, premonição,
Inspiração, técnica, testemunho...
Todo poema é um rascunho
Do poeta, redivivo, às vezes cínico,
Arauto, pantomímico,
Que o assina, assassina e lança.
Puérpera dança, sina, verve...
Que gosto tem um poema?
Cafetina a palavra,
O poema bebe o poeta
Como uma taça de vinho,
Como um gole de café,
Cicuta, chá ou vinagre.
Tanto mais instável é o poema
Quanto mais é palatável...
Não acalma e não socorre
E ainda põe de porre
Quem da poesia duvida.
Por capricho ou por birra,
O crítico, o poeta e o leitor,
Bom ou mau, seja como for,
A qualquer pessoa que dele se sirva,
Sem saber se está servida, nota:
Azinhavre, fel, zinabre, avinagre,
Por semântica, pela química ou por milagre,
Seja nessa ou noutra vida,
Palavra por palavra,
O poema gradualmente oxida.
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