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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Poema: "Oxida", de Erivelto Reis

 OXIDA

Erivelto Reis

 

Que forma tem um poema

Enquanto vai sendo criado?

Castelo de cartas desmoronadas,

Castelo de areia que a onda do mar afoga?

Casa vazia, pétala orvalhada?

Sabe tudo quem começar a ler um poema

Sem querer saber de nada!

Quem começa a ler um poema

Como alma que sai do corpo

Para dar uma caminhada.

Que forma tem um poema

Quando ele em nós se cala?

Banquete de palavras raras

É roupa de gala alugada?

Nascente de água contaminada

Sensação de calor,

Loucura, frio e febre?

Deve matar a sede ou nos matar de cólera?

Será capaz de distinguir entre perfume e éter?!...

O que há de estranho por detrás de um poema?

Intenção, premonição,

Inspiração, técnica, testemunho...

Todo poema é um rascunho

Do poeta, redivivo, às vezes cínico,

Arauto, pantomímico,

Que o assina, assassina e lança.

Puérpera dança, sina, verve...

Que gosto tem um poema?

Cafetina a palavra,

O poema bebe o poeta

Como uma taça de vinho,

Como um gole de café,

Cicuta, chá ou vinagre.

Tanto mais instável é o poema

Quanto mais é palatável...

Não acalma e não socorre

E ainda põe de porre

Quem da poesia duvida.

Por capricho ou por birra,

O crítico, o poeta e o leitor,

Bom ou mau, seja como for,

A qualquer pessoa que dele se sirva,

Sem saber se está servida, nota:

Azinhavre, fel, zinabre, avinagre,

Por semântica, pela química ou por milagre,

Seja nessa ou noutra vida,

Palavra por palavra,

O poema gradualmente oxida.

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