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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Poema: "Cotós", de Erivelto Reis


Cotós
Erivelto Reis

Nossa democracia
É em tons pastéis!
Nessa nova velha república,
De placebo e de coronéis...
Títulos, terras e posses,
Votos, apoios, aposentadorias
Comprados ou vendidas.
Tudo que é invendável
Aqui se negocia,
Como honra, à revelia
De qualquer apreço à ética
E à soberania.
Ao indisfarçável corrupto
O respeitável público
Pede licença.
Eis a sanha financeira da imprensa e dos bancos
Nos sites, nas redes e nas bancas
O povo nunca teve chance.
Cabrestos, fraudes, fake news,
Boca de urna, bloco na rua,
Boca de lobo, queima de arquivo...
O douto estelionatário,
Placebo, produto em plenário,
Ensina o que jamais aprendeu.
Juntam-se os astutos, seus discursos,
Seus ardis – matilha de cães raivosos
E vaidosos do abano dos próprios rabos.
Um lado usa as leis que cria e aprova a seu favor
E o outro as têm como víboras em derredor
De sua carótida.
Falsos profetas de caridade duvidosa
E ambição distinta.
Busque-se nos quartéis,
Nos motéis, nos altares...
Em lugares inconfessáveis
De tão inconciliáveis.
E nas legendas, e tendas e partidos,
As marcas da incoerência dos discursos
Compartilhados. Das ameaças tuitadas,
Explícitas, gratuitas e veladas.
Lacradores com cérebros lacrados
Não terão condição de dialogar.
Vão-se os dedos e os anéis
Ficamos sós. Cotós.
Vivemos hoje o tempo de nossos avós.

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