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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

sábado, 13 de junho de 2020

Poema: "Potestades", de Erivelto Reis

Potestades
Erivelto Reis

No aniversário de Fernando Pessoa

Para Cinda Gonda

Qual Hermes heteronômico
Invadindo o Olimpo
Onipresente da poesia,
Surgiu Pessoa,
Eros sedutor das palavras,
Iludido pelo amor que a elas teve.
Enquanto andas entre os símbolos,
Em que chamas consumes-te e ardes?
Coaduna-se, como Vênus, às deidades na imortalidade.
Para tua jornada poética, como não supor,
Também ter havido Concílio celestial,
Um santuário de Judas,
Ou um mapa astral de teu alcance universal?
Ao teu poder de criar mundos com poética maestria,
De mistérios e prazeres inconcebíveis aos mártires
E somente acessíveis aos fingidores e leitores,
Que podem deitá-los ao alcance dos mortais
  ̶  Daí, deste dom, desta ourivesaria  ̶  ,
Sobreveio a ira, a maldição de mirar-se
Sem especialmente admirar-se a ponto de conhecer-se...
Ei-lo dissuadido de uma existência de ser uno,
Condenado a guardar rebanhos,
Enigmático e explícito,
E a ti mesmo desassossegado, familiar e estranho.
Eu, leitor, em ritmo dissoluto,
Passo por essa vida e ler-te e não desvendar-te.
Álvaro, Ricardo, Alberto e outros tantos,
Guardam teus labirintos de poesia,
De pessoa em pessoas tão distintas.
No altar dos céus,
(no calabouço das ideias nos livros),
De onde destronastes os mitos
Revelando-lhes os véus, os vícios
E as diferentes faces que existem sob as oníricas máscaras,
Tornaste-te Narciso...
A desistir de si e a reinventar-se
Em contíguas, ambíguas
E insondáveis éclogas desnaturais.
A assistir e exacerbar o rubor,
A vergonha e as virtudes:
Dos portugueses, dos humanos e suas cartas mais ridículas...
Dos deuses esquecidos em encíclicas sem verdades!
Diante do cristalino turvo dos versos
E das águas melífluas,
Mergulha, Narciso,
Que a poesia é o paraíso perdido
Inabitável às potestades.

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