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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Poema: "No milho", de Erivelto Reis


No milho...
Erivelto Reis

Todo mundo pode ser perdoado,
mas agora já morreu muita gente inocente
nosso país está à beira da guerra civil,
de um golpe soft dentro do golpe
para proteger rebentos corruptos e criminosos.
Todo mundo pode ser perdoado,
mas a Amazônia está queimando,
os índios estão sendo executados,
as agendas humanitárias estão paradas,
uma família recebeu 80 tiros de fuzil,
helicópteros metralham a esmo
casebres, escolas, becos, vielas e crianças.
Todo mundo pode ser perdoado,
mas um juiz corrompeu as provas
e condenou contrariando todos os princípios do direito
e foi fazer parte do governo que ajudou
dessa maneira a eleger
milhares de pessoas choram seus entes queridos
em meio a uma pandemia
que nunca foi combatida a sério ou sem corrupção.
Todo mundo pode ser perdoado,
mas os direitos trabalhistas que perdemos
as divisas, o patrimônio que perdemos,
entregue de bandeja aos interesses estrangeiros,
as vergonhas que passamos, o medo
o desrespeito aos professores/as, à Escola,
à Universidade, à Ciência e à pesquisa,
fazem de nosso país um arremedo.
Todo mundo pode ser perdoado,
o que enalteceu o torturador,
e que condecorou assassino,
arquivo morto extorsivo
as corporações de comunicação que vendem produtos,
mentiras e soluções e reputações conforme a conveniência
de seus anunciantes.
Todo mundo pode ser perdoado,
mas o que fazer quanto aos mortos?
Serão ressuscitados?!
Os postos de trabalho e os direitos surrupiados?
Serão recuperados?
Difícil...
Mas os fascistas, arrependidos, frustrados, enrustidos,
entreguistas, falsos simpáticos, puxa-sacos,
incompetentes, traíras, fanáticos,  reacionários,
escravistas, querem ser perdoados.
Querem seu direito a expressar o fel de sua opressão.
O que fazer quanto aos ameaçados, à honra
enxovalhada em meio à imprensa e à multidão?!
Como respeitar a memória ultrajada dos
Desaparecidos e de suas famílias?
Como rebaixar de posto e patente
aqueles de pijama e passado pra lá de incoerente,
sem capacidade, e alçados ao poder por um incompetente?
Todo mundo pode ser perdoado,
mas e quanto aos humilhados, agredidos,
acharcados? Serão exaltados? Quando?!
O que farão quanto ao que nos pertencia e nos foi tirado?
O perdão é uma dádiva metafísica
concedida e facultado a quem erra sem querer
ou por acidente, ao acaso.
Vamos pensar se perdão se possa dar
a quem erra de caso pensado,
por preconceito arraigado.
Como achar que quem escolhe um seguidor de torturador
Pode estar em condição moral
de apontar erro alheio ou ato falho.
Quer perdão, pague pelo erro,
pela canalhice descoberta ou confessada
A sua biografia é a primeira parcela de muitas,
é pouco, mas vai ter de servir como entrada.

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