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Quem sou eu

- Erivelto Reis - Poemas e Crônicas
- Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.
domingo, 31 de dezembro de 2023
Poema: "1/137", de Erivelto Reis
segunda-feira, 6 de novembro de 2023
Crônica: "Apelo - Dia dos professores de 2023", de Erivelto Reis
Apelo - Dia dos professores de 2023
Erivelto Reis
Eu quereria abraçar meus companheiros e companheiras de jornada e dizer-lhes que tudo ficará bem. Eu quereria que os meninos e meninas seguissem sua caminhada e que pudessem chegar e fossem bem recebidos/as nas universidades, no mercado de trabalho e onde mais quisessem estar. Eu quereria não adoecer da alma, de medo, estresse e de ansiedade a cada vez que entrasse em sala. Eu quereria não ter de lidar me esquivando e tentando evitar o tempo todo as violentas práticas e ameaças veladas e simbólicas. Eu quereria não precisar ensinar toda hora, a cada nova turma, que todas as pessoas merecem respeito. Eu quereria que a fraternidade e o afeto não fossem sentimentos estranhos a tantos/as jovens.
Eu quereria não valer menos que o ecrã de um dispositivo eletrônico, um aplicativo ou uma conexão de internet. Eu quereria poder apenas construir com eles e elas as fantásticas transformações que o conhecimento proporciona, ao invés de ter de combater desinformação, convicções baseadas nas distorções vis de dogmas, da ética, das relações de poder e de valores. Eu quereria que entre os/as de nosso meio coexistisse e que prevalecesse sempre o real entendimento e prática das melhores ações. Eu quereria ser e me sentir feliz constantemente pelo exercício de minha profissão, pela perspectiva do bem que ela possa fazer à sociedade e às pessoas individualmente em lugar da permanente pressão, desvalorização e de apenas eventualmente sentir que alguém reconheça o mérito do meu trabalho. Eu quereria que a escola fosse um porto seguro e jamais um campo de guerra, uma cidade devastada pelo desleixo político, um cemitério onde vão morrer os sonhos.
Eu quereria coisas que não posso esconder e sofro de desilusões cotidianas que marejam meus olhos, me atemorizam e me pedem pra não desistir. Há uma eloquência silenciosa nos desastres que testemunhamos e mesmo o cálice das pequenas vitórias diárias que eventualmente saboreamos tem uma nota final de amargor. Eu quereria que meu texto de hoje fosse lido como uma declaração de amor e que servisse como um alento, sinal de que as dores que calamos e os percalços que enfrentamos não são nossa culpa e que não estamos sós. No entanto, somos atravessados por um sistema que nos quer submissos, desmotivados e amedrontados. Por isso resistimos. Por enquanto, resistimos. Por honra aos bons que nos precederam, por amor à profissão que escolhemos e por crer num ideal de igualdade, democracia e liberdade.
Crônica: "O Silêncio dos indolentes", de Erivelto Reis
O Silêncio dos indolentes
Erivelto Reis
A escola é partilha. Meus alunos quase não disseram nada pela passagem do dia dos professores e professoras. Mas a direção da escola também não disse, mas a secretaria de educação também não disse, mas o ministério da educação também não disse. E seria uma grande surpresa se dissessem. E foi uma grata surpresa que alguns tenham dito. Não algo que eu quisesse ouvir ou achasse que merecesse. Ou algo coletivo que empoderasse nossa categoria...Mas algo grandiloquente que viesse de cada um dos que gerem educação ou que nascesse dessa comunidade, que brotasse naturalmente como um gesto de real reconhecimento ou de gratidão. Fazem mil reuniões de tudo quanto é coisa, horas e horas do mais amargo licor de COC, querem esfregar portarias que não são políticas democráticas de educação em nossa cara... mas com que rapidez estéril nos saúdam pelo dia que devia ser de festa. Um feriado pra alma. Que mais do que uma felicidade aparente, poderia ser uma fraternidade sincera. A escola é partilha. Não posso estar entusiasmado por esse sistema. Nem podem querer que eu vos louve por fazerem o que não fazem ou por fazerem como o fazem o que não deviam fazer como escolhem ter feito. A escolha é partilha. Partilhemos nossa solidão comovida. Nossa solidão como vida. Viva. Ehhh...
17-10-23
Poema: "Halloween", de Erivelto Reis
Halloween
quarta-feira, 13 de setembro de 2023
Poema: "Re-velar", de Erivelto Reis
Re-velar
domingo, 10 de setembro de 2023
Poema: "Ferrão", de Erivelto Reis
Ferrão
Crônica: "Baila comigo: a protonovela do projeto narrativo de Manoel Carlos", de Erivelto Reis
BAILA COMIGO: A PROTONOVELA
Poema: "Tandey", de Erivelto Reis
Tandey
Poema: "Pirambeira", de Erivelto Reis
Pirambeira
sábado, 19 de agosto de 2023
"Sobre uma pretensa articulação para o ensino integral em todo o país", texto de Erivelto Reis
"Sobre uma pretensa articulação para o ensino integral em todo o país", texto de Erivelto Reis
Não basta querer ou dizer que se pretende implementar uma escola em tempo integral. Professores/as do ensino básico têm de ter, como regime de trabalho, a Dedicação Exclusiva, atuando em uma única unidade (professores com salários baixos, defasados, se desdobrando em jornadas em duas ou três escolas em turnos das 7h às 22h para se manterem com o mínimo de recursos, estão extenuados), devem receber um salário proporcional a isso equiparável aos melhores salários do judiciário e do legislativo de formação semelhante, ter condições de trabalho dignas e ter seu plano de carreira adequado à sua formação e qualificação. Chega de cortar disciplinas e diminuir carga horária para a educação pública! Isso é uma afronta.
Chega dessa ladainha de valorizar educação apenas da boca pra fora sem fazer disso uma política de estado e não um projeto ou programa de governo que pode sucumbir a cada quatro anos. Somente políticas de estado efetivas para a educação podem garantir que haja permanência, continuidade e a evolução de nossa sociedade. Sem elevar a educação e os educadores a um novo status de tratamento, a uma legislação que os ampare e os valorize realmente, a sociedade brasileira está fadada à exploração e ao desemprego. Ensino integral não significa ensino integrado. Como pode ser mais fácil desdolarizar os combustíveis do que derrubar o hediondo novo ensino médio? Como pode ser mais fácil mexer no câmbio da moeda do que fazer com que o piso nacional da educação seja cumprido?
O governo federal não pode mais agir como um pai que assiste impassível a alguém (governos estaduais e prefeituras) maltratar seus filhos ou se juntar a eles para praticar mais violência. Governos estaduais não podem gerir educação pública sem prestar contas ao governo federal e em contrariedade com políticas de estado para a educação.
Poema: "Passo", de Erivelto Reis
Passo
domingo, 30 de julho de 2023
A negociação pra poder dar aula, texto de Erivelto Reis
Há quem opte por não negociar, por se deixar levar, há quem desista e há quem morra tentando ensinar. Literalmente. Infelizmente.
Vão vendo o silenciamento da Literatura, texto de Erivelto Reis
O silêncio sepulcral da ABL enquanto os jovens estudantes brasileiros têm seu direito à Literatura negado por governos estaduais no país inteiro, no dia a dia, na supressão do ensino regular da disciplina e das obras nos componentes curriculares e em livros didáticos sem qualquer alusão à literatura ou utilizando apenas fragmentos sem maiores reflexões ou referências, e em avaliações como o SAEB, onde sua ausência é gritante, vai se tornando gradativamente um silenciamento do povo brasileiro, de nossa cultura, dos professores e professoras, um esvaziamento da oferta de Literatura nas Universidades, dos jovens e promissores escritores e escritoras... Até se tornar apenas um silêncio sepulcral de coisa nenhuma.
"Sobre o cansaço escolar de hoje. Só de hoje", Texto de Erivelto Reis
Quase nada nos separa da barbárie. Uma geração sem criatividade, sem empatia e sem responsabilidade afetiva se insinua nos meandros de tudo quanto já destruíram em termos de educação em nosso país. São hostis e estão em grande número. Sem formação, lastro cultural, capacidade mínima de leitura, escrita e interpretação, tornam-se agressivos quando impedidos de se esquivar de qualquer tarefa com o uso do celular, da internet para lhes dar uma maneira de se livrar da tarefa de responder sem ao menos ter de pensar na atividade ou em sua solução e eventuais aplicações. Repetem e repetem e repetem à exaustão ou o arremedo de vocabulário que insinua as rudezas de que se acham capazes e mantras niilistas, superficiais e jargões que, no tom com que falam e no movimento de seus corpos, auxiliam na mensagem de que nada que se ofereça é bem vindo, importante ou necessário - inclusive você - a não ser que decidam que é e por quanto tempo. Recusam-se a tarefas básicas como serem minimamente gentis e cordiais. Lidam com qualquer tipo de frustração com grosseria, desdém e atitudes e expressões passivo-agressivas. Alguns tentam desesperadamente aprender e construir algo com a experiência letiva, no que são constantemente atrapalhados, e quase suplicam para que não desistamos e enfrentemos a turba de gente pra quem a escola e os profissionais da educação não significam nada. Não é o cansaço de uma vida, de um bimestre, de uma semana... É o cansaço e a frustração de hoje. E na segunda começa tudo de novo.
Poema: "Ilusão de Ótica", de Erivelto Reis
Ilusão de ótica
Poema: "I.A.", de Erivelto Reis
I.A.
Erivelto Reis
Mãe, não quero voltar pra escola.
Lá eu não posso tirar cola,
Não posso trapacear.
Não posso ameaçar quem eu quero
E sendo muito sincero,
Eu não gosto de estudar.
Pra que eu vou me esforçar
Se tudo aquilo que eu quero,
É só pedir que cê dá.
Mãe, eu não quero voltar pra escola.
Lá tá cheio de otário,
Lá eu tenho que cumprir horário,
Caligrafia, vocabulário eu tenho que praticar.
Não posso xingar, bater e intimidar.
Tenho que ler, respeitar...
A área de um quadrilátero,
Mesmo valendo 10 pontos,
Eu é que não vou calcular.
E se me pedem algum trabalho
É só copiar e colar...
Lá tem um monte de funcionário
Que eu ironizo, desvalorizo,
Desacato e ainda debocho do salário
Já tão difícil de ganhar.
Mãe, não quero voltar pra escola
Eu não quero copiar,
Eu não gosto de ler nada,
Não adianta tentar.
E nem gosto de pensar.
Bom mesmo é dar porrada,
Fazer dancinha com uma sarrada no ar,
Ver vídeos no celular.
Mãe, eu não quero voltar pra escola!
Não liga que eu não estudo,
Que eu reclamo de tudo,
E não conta pro meu pai.
Sabe que no Whatsapp,
Eu falo com os meus parça,
Mas não tu não vem falar comigo,
Lembra do nosso último assunto:
E vi que você tava junto e perguntei:
Qual é a senha do wi-fi?
Não quero voltar pra escola
Eu quero a rua, quero a farra,
Acordar quando eu quiser.
Ver coisa imprópria, apostar,
Quero ver meme, fofoca,
Ficar on-line direto e Minecraft jogar,
Curtir stories, bancar o hater,
E a minha trend postar.
Pra que preciso aprender,
Se na internet tem tudo?
Eu faço igual a todo mundo:
Peço pro Google dizer,
Pra eu fingir que estudo
E logo em seguida esquecer.