DANTE
Erivelto Reis
Entre o café da manhã, o sair pra trabalhar e a hora de
voltar para casa,
Você já teve de engolir tantos sapos, choros e ouvir
tantos desaforos
Que o suor é vinagre e cicuta e me escorre pelos canais
lacrimais e por meus poros
Terror, vida de trabalhador virar uma sessão de tortura
com livro de ponto:
São Donos, Chefes, patrões, gerentes
Nem sempre competentes ou presentes, mas sempre orgulhosos
Sepultando viva a autoestima de mais um funcionário,
Ou inocentemente apenas explorando a sua força de
trabalho
Na brutal desculpa de lhe pagar um salário.
Salafrário – capitalismo é mesmo o golpe do falsário.
E lá fora tem uma fila visível, invisível, inviável e
interminável
De gente precisando e ansiando por passar por esse mesmo
calvário.
Desde a hora em que você acordou e nem passou da hora de
não almoçar
E você já teve que fazer média com pelo menos 10 vilões
de colocar os da Marvel no chinelo.
No noticiário, os demônios dos círculos mais profundos e
abissais do inferno
Dão entrevistas e promulgam leis e vetam projetos e nos
caçam feito animais
As figuras mais notórias da república masturbam seus
órgãos governamentais
Aliciando o corruptor para as vantagens
Que podem oferecer, ou sendo postas no poder por corporações
sem rosto
Eis uma terra sem lei nem rei 520 anos depois...
Ainda não deu nem seis horas
E uma horda de tiranos, racistas, machistas,
preconceituosos e misóginos
Já assediou moral, sexualmente um sem número de meninas e
mulheres,
Senhoritas e senhoras, empregados e empregadas...
No escritório, na fábrica, na indústria e no mercado parece
não haver pra onde fugir!
Para passar por isso, basta apenas existir.
O dia ainda não acabou e eu sei que amanhã começa tudo
isso de novo...
São deuses e profetas e escrituras
Manipulados a poder do dinheiro, única deidade em que
seguem crendo
Dante ainda não viu o inferno todo, nem ele nem
Hieronymous Bosch
O buraco é mais profundo, o quadro é mais horrendo e se
mostrou pra nós...
O mundo inferior diante disso não passa de fake news
Há algo de bestial nesse espírito de prática da casa
grande
Há algo de muito podre, há algo de muito vil,
Nesse inferno que se tornou o brasil.
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