O Céu de Rio Verde
Erivelto Reis
Para minha mãe, Maria Aparecida, com saudades.
Se eu voltasse hoje para o céu de Rio Verde,
Supondo que Rio Verde tenha um céu só para o seus,
Eu queria voltar feito nuvem, espírito livre
De um filho pródigo, não arrependido ou frustrado,
Mas que tenha cumprido a sua missão.
Eu queria voltar feito a alma liberta de uma mãe
Que fez tudo por seus filhos e por sua família,
Enfrentou o tempo, a distância e a saudade
Para ditar ao mundo – se não fosse possível escrever –
As passagens mais comuns e cotidianas
E por isso mais árduas, de quem alimentou os seus,
Abrigou, protegeu e defendeu até o último dia.
Se houvesse um céu só para mim, exclusivo,
Como filho dessa terra de Rio Verde, Goiás,
Mais pranteada e idealizada do que abraço
De mãe e lágrima de despedida,
Eu quereria abraçar os feitos de meus irmãos,
Reencontrar os que já me esperassem
E proteger aqueles que persistem em sua lida terrena.
Queria um céu de perdão e contentamento
No qual eu pudesse rever o meu único e grande amor...
E abençoar meus descendentes.
Deve ser infinito o céu de Rio Verde.
Deveria ser possível, apesar da lúbrica tristeza por minha
ausência,
Que onipresente eu me tornasse em cada pequena conquista,
Em cada pequena vitória daqueles a quem eu presenteei com a
vida,
Assim como a esperança de que eu pudesse
Continuar confortando-os a cada momento
Que em seus caminhos houvesse um entrave.
Nesse céu de Rio Verde, eu cantaria as canções mais bonitas
de minha mocidade,
Passearia por entre as campinas do cerrado
E veria, do céu de Rio Verde, o pôr do sol na Terra,
Acomodado no alpendre da casa de minha infância.
É ali que eu seria eternamente feliz,
Que eu seria finalmente eu.
No céu de Rio Verde finalmente eu descansaria.
E começaria uma nova história.
Redimido pela trajetória de todas as pessoas
Que eu amei e às quais dei guarida
Redivivo na memória nova, definitiva e repentinamente Aparecida.
O céu de Rio Verde é tão longe...
E eu ainda tenho que atravessar a vida.
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