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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

domingo, 20 de setembro de 2020

Poema: "O Céu de Rio Verde", de Erivelto Reis

 

O Céu de Rio Verde

Erivelto Reis

Para minha mãe, Maria Aparecida, com saudades.

 

Se eu voltasse hoje para o céu de Rio Verde,

Supondo que Rio Verde tenha um céu só para o seus,

Eu queria voltar feito nuvem, espírito livre

De um filho pródigo, não arrependido ou frustrado,

Mas que tenha cumprido a sua missão.

Eu queria voltar feito a alma liberta de uma mãe

Que fez tudo por seus filhos e por sua família,

Enfrentou o tempo, a distância e a saudade

Para ditar ao mundo – se não fosse possível escrever –

As passagens mais comuns e cotidianas

E por isso mais árduas, de quem alimentou os seus,

Abrigou, protegeu e defendeu até o último dia.

Se houvesse um céu só para mim, exclusivo,

Como filho dessa terra de Rio Verde, Goiás,

Mais pranteada e idealizada do que abraço

De mãe e lágrima de despedida,

Eu quereria abraçar os feitos de meus irmãos,

Reencontrar os que já me esperassem

E proteger aqueles que persistem em sua lida terrena.

Queria um céu de perdão e contentamento

No qual eu pudesse rever o meu único e grande amor...

E abençoar meus descendentes.

Deve ser infinito o céu de Rio Verde.

Deveria ser possível, apesar da lúbrica tristeza por minha ausência,

Que onipresente eu me tornasse em cada pequena conquista,

Em cada pequena vitória daqueles a quem eu presenteei com a vida,

Assim como a esperança de que eu pudesse

Continuar confortando-os a cada momento 

Que em seus caminhos houvesse um entrave.

Nesse céu de Rio Verde, eu cantaria as canções mais bonitas de minha mocidade,

Passearia por entre as campinas do cerrado

E veria, do céu de Rio Verde, o pôr do sol na Terra,

Acomodado no alpendre da casa de minha infância.

É ali que eu seria eternamente feliz,

Que eu seria finalmente eu.

No céu de Rio Verde finalmente eu descansaria.

E começaria uma nova história.

Redimido pela trajetória de todas as pessoas

Que eu amei e às quais dei guarida

Redivivo na memória nova, definitiva e repentinamente Aparecida.

O céu de Rio Verde é tão longe...

E eu ainda tenho que atravessar a vida.

 

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