Desmentindo Maiakovski
Erivelto Reis
De juízes sem
juízo e de doutores que falsificam títulos. De leis que são criadas ou
manipuladas para oprimir os trabalhadores e trabalhadoras e resguardar os
interesses dos ricos e poderosos. Assim eu poderia explicar a recente dinâmica
do país em que vivo. Desde 2016, o projeto é a sarjeta, o extermínio, a vala e
a rendição de qualquer força de luta em favor da igualdade, da justiça e da
democracia.
O Brasil é um
país onde há pessoas que não respeitam o luto dos filhos que sepultam as mães;
que roubam de viúvas, mesmo que seja seu último direito ao mísero salário
mínimo, para que possam ser sepultadas dignamente; que, sub-repticiamente, tira
a aliança de casamento (em seu dedo desde 1973) de seus moribundos ao menor
indício de seu último suspiro (como no conto em Uma vela para Dario). É um país
que em que os atuais governantes não perdem uma única oportunidade de exaltar
torturadores e os criminosos de seu compadrio e silenciam VERGONHOSAMENTE, na
data em que se deveria comemorar o dia dos professores, só pra citar um fato
bem recente. Que humilha uma atleta por expressar-se e passa 90 minutos de um
jogo de futebol enaltecendo o governo. Que usa verbas de emendas e publicidade
para adoçar a boca de seus apoiadores, comprar blindagem política e apoio aos
seus projetos e amargar a existência de seus oponentes ou simplesmente daqueles
que questionem suas ações.
Esse país,
desde o GOLPE DE ESTADO DE 2016, QUE DERRUBOU A PRESIDENTA DEMOCRATICAMENTE
ELEITA EM FAVOR DE SEUS COVARDES OPOSITORES; DO GOVERNO NORTE-AMERICANO, E DE
POLÍTICOS, EMPRESÁRIOS, BANQUEIROS E SETORES DA IMPRENSA, tem uma expressão em
que o esgar de ódio pelos mais pobres, pelo funcionalismo e a truculência de
não permitir sequer o questionamento, de não se prestar ao esclarecimento
quanto à forma de governar o país que é de todos, se mistura às negociatas, ao
negacionismo e às perseguições mais vis contra aqueles e aquelas que entende
como desafetos. Um país em que determinadas pessoas falam em moralidade, ética,
família e perseguem e matam mulheres negras, crianças, jovens pobres, e suprime
todos os direitos mais básicos da dignidade de trabalhadores/as e de pessoas em
situação de fragilidade social. Não foi a pandemia que pintou o quadro. Ele já
estava sendo produzido. Sempre houve corruptos e corruptores em todos os
segmentos da sociedade. Mas nunca essa gente se sentiu tão bem representada e
encontrou tantos incentivos para sua torpeza e vilania odiosas. A pandemia fez
com que a obra se concretizasse em maior velocidade. As tintas do ódio e do ressentimento
contra as instituições, muito particularmente em relação à Universidade
Pública, à Ciência e aos mais fragilizados socialmente já estavam nos planos
dessas pessoas.
Vivemos em um
país em que o seu líder máximo, em TODAS as ocasiões em que se manifestou a
favor de determinados indivíduos - de sua confiança, honestos, capazes,
íntegros, competentes etc., pouco depois descobriu-se que essas pessoas
cometeram e, se empossadas em algum cargo ou função de Estado, passaram a cometer,
delitos gravíssimos de inúmeras naturezas. Tendo pessoas em cargos
importantíssimos para o Estado, inclusive, com senadores com dinheiro escondido
na cueca, com desvio de verbas para respiradores, com pessoas visivelmente
comprometidas com esquemas de movimentação de dinheiro não declarado ou de
origem muito, muito suspeita entre os de seu próprio DNA envolvidas em
patéticas e injustificáveis situações.
Os que ocupam
os mais altos patamares da república brasileira hoje e os indicados e e indicadas
por eles/as em todos os escalões, causam ojeriza em qualquer pessoa com bom
senso. Suas práticas, projetos e declarações escandalizam instituições como a
ONU, a OMS, os países desenvolvidos e comprometidos com uma nova visão política
de sustentabilidade dignidade social para as sociedades e seu desenvolvimento
no século XXI. O poeta russo Vladimir Maiakovski, lá na aurora do irreversível
século XX, escreveu: “Dizem que em algum lugar, parece que no Brasil, existe um
homem feliz.” Não há felicidade legitimamente possível nesse país atualmente. E
como em Carlos Drummond de Andrade, no poema Hino Nacional: "[...] Nenhum
Brasil existe. E acaso existirão os brasileiros?".
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