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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

sábado, 17 de outubro de 2020

Crônica: "Desmentindo Maiakovski", de Erivelto Reis

Desmentindo Maiakovski

Erivelto Reis 


De juízes sem juízo e de doutores que falsificam títulos. De leis que são criadas ou manipuladas para oprimir os trabalhadores e trabalhadoras e resguardar os interesses dos ricos e poderosos. Assim eu poderia explicar a recente dinâmica do país em que vivo. Desde 2016, o projeto é a sarjeta, o extermínio, a vala e a rendição de qualquer força de luta em favor da igualdade, da justiça e da democracia.

O Brasil é um país onde há pessoas que não respeitam o luto dos filhos que sepultam as mães; que roubam de viúvas, mesmo que seja seu último direito ao mísero salário mínimo, para que possam ser sepultadas dignamente; que, sub-repticiamente, tira a aliança de casamento (em seu dedo desde 1973) de seus moribundos ao menor indício de seu último suspiro (como no conto em Uma vela para Dario). É um país que em que os atuais governantes não perdem uma única oportunidade de exaltar torturadores e os criminosos de seu compadrio e silenciam VERGONHOSAMENTE, na data em que se deveria comemorar o dia dos professores, só pra citar um fato bem recente. Que humilha uma atleta por expressar-se e passa 90 minutos de um jogo de futebol enaltecendo o governo. Que usa verbas de emendas e publicidade para adoçar a boca de seus apoiadores, comprar blindagem política e apoio aos seus projetos e amargar a existência de seus oponentes ou simplesmente daqueles que questionem suas ações.

Esse país, desde o GOLPE DE ESTADO DE 2016, QUE DERRUBOU A PRESIDENTA DEMOCRATICAMENTE ELEITA EM FAVOR DE SEUS COVARDES OPOSITORES; DO GOVERNO NORTE-AMERICANO, E DE POLÍTICOS, EMPRESÁRIOS, BANQUEIROS E SETORES DA IMPRENSA, tem uma expressão em que o esgar de ódio pelos mais pobres, pelo funcionalismo e a truculência de não permitir sequer o questionamento, de não se prestar ao esclarecimento quanto à forma de governar o país que é de todos, se mistura às negociatas, ao negacionismo e às perseguições mais vis contra aqueles e aquelas que entende como desafetos. Um país em que determinadas pessoas falam em moralidade, ética, família e perseguem e matam mulheres negras, crianças, jovens pobres, e suprime todos os direitos mais básicos da dignidade de trabalhadores/as e de pessoas em situação de fragilidade social. Não foi a pandemia que pintou o quadro. Ele já estava sendo produzido. Sempre houve corruptos e corruptores em todos os segmentos da sociedade. Mas nunca essa gente se sentiu tão bem representada e encontrou tantos incentivos para sua torpeza e vilania odiosas. A pandemia fez com que a obra se concretizasse em maior velocidade. As tintas do ódio e do ressentimento contra as instituições, muito particularmente em relação à Universidade Pública, à Ciência e aos mais fragilizados socialmente já estavam nos planos dessas pessoas.

Vivemos em um país em que o seu líder máximo, em TODAS as ocasiões em que se manifestou a favor de determinados indivíduos - de sua confiança, honestos, capazes, íntegros, competentes etc., pouco depois descobriu-se que essas pessoas cometeram e, se empossadas em algum cargo ou função de Estado, passaram a cometer, delitos gravíssimos de inúmeras naturezas. Tendo pessoas em cargos importantíssimos para o Estado, inclusive, com senadores com dinheiro escondido na cueca, com desvio de verbas para respiradores, com pessoas visivelmente comprometidas com esquemas de movimentação de dinheiro não declarado ou de origem muito, muito suspeita entre os de seu próprio DNA envolvidas em patéticas e injustificáveis situações.

Os que ocupam os mais altos patamares da república brasileira hoje e os indicados e e indicadas por eles/as em todos os escalões, causam ojeriza em qualquer pessoa com bom senso. Suas práticas, projetos e declarações escandalizam instituições como a ONU, a OMS, os países desenvolvidos e comprometidos com uma nova visão política de sustentabilidade dignidade social para as sociedades e seu desenvolvimento no século XXI. O poeta russo Vladimir Maiakovski, lá na aurora do irreversível século XX, escreveu: “Dizem que em algum lugar, parece que no Brasil, existe um homem feliz.” Não há felicidade legitimamente possível nesse país atualmente. E como em Carlos Drummond de Andrade, no poema Hino Nacional: "[...] Nenhum Brasil existe. E acaso existirão os brasileiros?".


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