Fetiche
Erivelto Reis
Não se pode argumentar com a morte
Não há tribunal ou parlamento
Recurso, ponderação, isolamento,
Nem mesmo precaução
Que sejam suficientes para dispersá-la
De seu propósito bio(i)lógico.
A morte não dá reembolso
Não emite via fiscal
Não aceita boleto
Nem cartão de isenção social.
A morte nasceu e mora em cada um
Ela é nossa inquilina
E depois – inexplicavelmente –
Torna-se nossa tirana senhoria.
Pode fazer jejum, oração,
Pode tentar comunicação com os que já morreram
Psicografia, regressão, tratamento...
Não tem desenrolo, não tem arrego!
A morte é incorruptível, inexorável e indelével!
E não dá sossego.
Não se abala com choro, doença, vísceras... sofrimento,
Boas ações, amor, empatia, ética, inteligência ou talento.
Nada a demove de seu intento.
Ela me olha, mal fingindo disfarce (e debocha), nesse
exato momento,
– Tá escrevendo sobre mim, de novo.
Pensa que poesia é antídoto?
Esquece! Para de reclamar! Desiste!
(Intuo seu argumento, sinto seu hálito agridoce)...
– Tenho todos vocês no meu radar.
Os poetas são meu fetiche...
(Como se todo mundo não fosse)...
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