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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Poema: "Fetiche", de Erivelto Reis

 

Fetiche

Erivelto Reis

 

Não se pode argumentar com a morte

Não há tribunal ou parlamento

Recurso, ponderação, isolamento,

Nem mesmo precaução

Que sejam suficientes para dispersá-la

De seu propósito bio(i)lógico.  

A morte não dá reembolso

Não emite via fiscal

Não aceita boleto

Nem cartão de isenção social.

A morte nasceu e mora em cada um

Ela é nossa inquilina

E depois – inexplicavelmente –

Torna-se nossa tirana senhoria.

Pode fazer jejum, oração,

Pode tentar comunicação com os que já morreram

Psicografia, regressão, tratamento...

Não tem desenrolo, não tem arrego!

A morte é incorruptível, inexorável e indelével!

E não dá sossego.

Não se abala com choro, doença, vísceras... sofrimento,

Boas ações, amor, empatia, ética, inteligência ou talento.

Nada a demove de seu intento.

Ela me olha, mal fingindo disfarce (e debocha), nesse exato momento,

– Tá escrevendo sobre mim, de novo.

Pensa que poesia é antídoto?

Esquece! Para de reclamar! Desiste!

(Intuo seu argumento, sinto seu hálito agridoce)...

– Tenho todos vocês no meu radar.

Os poetas são meu fetiche...

(Como se todo mundo não fosse)...

 

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