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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

terça-feira, 11 de maio de 2021

Texto: "Rubro Rio", de Erivelto Reis

 

Rubro Rio

            Erivelto Reis

            Mandam, quando mandam, um professor desmoralizado, sem recursos e acuado para ensinar em qualquer lugar metrópole, subúrbio ou interior desse país – a única coisa que se parece distribuir por igual para a maioria do povo é a pobreza e a exclusão –, e o que logo se aprende é que a educação não dá camisa a ninguém. "Tem tanto doutor desempregado", "tanto engenheiro que é... qualquer profissão que não seja engenheiro"... "professor, de que adianta saber tanto e ganhar tão pouco?". (A hora aula na escola particular faria doer a um coração de gelo, se as pessoas de gelo tivessem um coração).

            Mandam, sempre mandam, a força, a fúria e o extermínio para educar com o terror e a morte aos mais pobres, aos excluídos e aos preteridos. Equipara-se e condena-se com a pena de morte os agentes do estado que combatem os criminosos, os criminosos e o povo que é vítima crônica do abandono do poder público e da ação de grupos armados e violentos.

            Os grandes responsáveis por isso são os políticos que se apoderam de nossos impostos, de nosso patrimônio e os usam em benefício de suas variadas ganâncias e os empresários que financiam esses políticos a que deseduquem o povo, dilapidem nosso patrimônio e assim legitimem a injustiça social e a morte como política.

            Os corruptos, grande parte do legislativo e do judiciário brasileiro e da falsa e pretensa elite preconceituosa desse país não parecem perceber nem temer que o sangue dos inocentes sempre esteve e não vai sair de suas mãos e que o filme da barbárie de uma parte muito específica da sociedade brasileira contra o restante do povo deveria rodar o tempo todo no cinema de suas consciências.

            A escola e a cidadania não se enquadram como proposta de soberania nacional em ideais de direitos que não conduzam apenas à formação de mão de obra barata e eleitorado cativo. E quem tenta modificar esse quadro é doutrinador ou esquerdista... Os bancos escravizam as pessoas com juros de agiotas e sabem quem são e onde estão e quanto ganham os verdadeiros traficantes, os corruptos e os estelionatários desse país. Há patrões que exploram e assediam seus funcionários, quando não põem sobre seus ombros a guilhotina perpétua do desemprego e da humilhação; grande parte do judiciário vive numa bolha, num paraíso extorsivo de taxas e emolumentos com firma reconhecida e subserviência aos poderosos que faz da justiça artigo de luxo.

            O legislativo, com raras e honrosas exceções, se dobra e legisla em favor da autoimpunidade e dos interesses contrários aos do povo. O retrato do Brasil é composto pela imagem de nações indígenas dizimadas, de negros escravizados, um banqueiro, um juiz e político bebendo Bourbon e fumando charuto e muitas, muitas mães chorando sobre as poças de sangue dos seus filhos mortos.

            Já não há uma narrativa verídica contra a perversão, o preconceito e a violência para a qual não haja um antídoto falso e torpe publicado em grupos de Whatsapp. E se todas as poças de sangue se juntassem, não haveria oceano que comportasse na foz, a força, a extensão e a vazão desse rubro rio.

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