Rubro Rio
Erivelto
Reis
Mandam,
quando mandam, um professor desmoralizado, sem recursos e acuado para ensinar
em qualquer lugar metrópole, subúrbio ou interior desse país – a única coisa
que se parece distribuir por igual para a maioria do povo é a pobreza e a
exclusão –, e o que logo se aprende é que a educação não dá camisa a ninguém.
"Tem tanto doutor desempregado", "tanto engenheiro que é...
qualquer profissão que não seja engenheiro"... "professor, de que
adianta saber tanto e ganhar tão pouco?". (A hora aula na escola
particular faria doer a um coração de gelo, se as pessoas de gelo tivessem um
coração).
Mandam,
sempre mandam, a força, a fúria e o extermínio para educar com o terror e a
morte aos mais pobres, aos excluídos e aos preteridos. Equipara-se e condena-se
com a pena de morte os agentes do estado que combatem os criminosos, os
criminosos e o povo que é vítima crônica do abandono do poder público e da ação
de grupos armados e violentos.
Os
grandes responsáveis por isso são os políticos que se apoderam de nossos
impostos, de nosso patrimônio e os usam em benefício de suas variadas ganâncias
e os empresários que financiam esses políticos a que deseduquem o povo,
dilapidem nosso patrimônio e assim legitimem a injustiça social e a morte como
política.
Os
corruptos, grande parte do legislativo e do judiciário brasileiro e da falsa e
pretensa elite preconceituosa desse país não parecem perceber nem temer que o
sangue dos inocentes sempre esteve e não vai sair de suas mãos e que o filme da
barbárie de uma parte muito específica da sociedade brasileira contra o
restante do povo deveria rodar o tempo todo no cinema de suas consciências.
A
escola e a cidadania não se enquadram como proposta de soberania nacional em
ideais de direitos que não conduzam apenas à formação de mão de obra barata e
eleitorado cativo. E quem tenta modificar esse quadro é doutrinador ou
esquerdista... Os bancos escravizam as pessoas com juros de agiotas e sabem
quem são e onde estão e quanto ganham os verdadeiros traficantes, os corruptos
e os estelionatários desse país. Há patrões que exploram e assediam seus
funcionários, quando não põem sobre seus ombros a guilhotina perpétua do
desemprego e da humilhação; grande parte do judiciário vive numa bolha, num
paraíso extorsivo de taxas e emolumentos com firma reconhecida e subserviência
aos poderosos que faz da justiça artigo de luxo.
O
legislativo, com raras e honrosas exceções, se dobra e legisla em favor da
autoimpunidade e dos interesses contrários aos do povo. O retrato do Brasil é
composto pela imagem de nações indígenas dizimadas, de negros escravizados, um
banqueiro, um juiz e político bebendo Bourbon e fumando charuto e muitas,
muitas mães chorando sobre as poças de sangue dos seus filhos mortos.
Já
não há uma narrativa verídica contra a perversão, o preconceito e a violência
para a qual não haja um antídoto falso e torpe publicado em grupos de Whatsapp.
E se todas as poças de sangue se juntassem, não haveria oceano que comportasse
na foz, a força, a extensão e a vazão desse rubro rio.
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