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Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.

terça-feira, 11 de maio de 2021

Texto: "Uma mensagem de março de 2020", de Erivelto Reis

 Rio de Janeiro, 14 de março de 2020

Aos meus alunos e alunas ( e também a alguns colegas)

À maneira de Cícero César...
        Queridos, bom dia. Queria poder dizer pra vocês que tudo vai ficar bem. Estamos em quarentena, que é uma medida grave, não gravíssima, cautelar para tentar impedir a disseminação em massa do Covid-19. A quarentena não é pra evitar que as pessoas fiquem doentes, porque elas vão ficar. É porque se um grande volume de pessoas ficarem doentes ao mesmo tempo, estará ainda mais evidente a incompetência dos governos em lidar com a educação e com a saúde, por exemplo.
            Não há um cuidado real. É apenas um propósito de criação de um álibi. Em duas a três visitas aleatórias de gente séria e capacitada às escolas de municípios da baixada fluminense, por exemplo, poder-se-ia constatar condições insalubres para ensinar e aprender e para a saúde de profissionais da educação e, principalmente, das crianças e de seus sonhos. Falta água (sede e higiene precarizadas, relativizadas), iluminação precária, não há recursos, sabão, álcool gel, materiais didáticos adequados, mediadores... às vezes falta espaço. Menos de um metro quadrado por aluno. São 40, 44, 47 crianças e jovens por turma, aglomerados sob um calor, uma umidade de transpiração corporal e respiração inimagináveis, onde mal caberiam 25 alunos e alunas. Nestas condições um espirro, uma tosse (mesmo sem o Covid-19) poderiam ser muito prejudiciais. Os alunos mal conseguem se concentrar em algo além do calor e da sede que sentem, do desconforto pela falta de espaço (conflitos, discussões e algum princípio de indisposição física - brigas entre alunos - e mesmo mal estar físico e emocional). É um sem fim de "posso ir ao banheiro?" Com "posso beber água?" Num círculo de desconforto contínuo.
        Estamos em quarentena. Não em férias. Nossas crianças e jovens têm de esperar, mas o tempo não espera. Mesmo sem o Covid-19, há menos tempos de Português e Matemática do que o que o que seria ideal. E são inúmeras as confluências que permitem que ainda nossos alunos e alunas do ensino médio possam ascender ao Ensino Superior ou qualificar-se minimamente para o mercado de trabalho. Entre elas, destacam-se a resignação, a capacidade e o empenho de professores e profissionais da educação, do porteiro à direção. Escolas pintadas, uniformes e ar condicionado funcionando é o mínimo pra começar a pensar escola e educação como um sistema gerido com seriedade e em face do quanto a população paga de impostos sobre tudo. Os Salários, a valorização real e condições de trabalho confortáveis ainda são uma Ítaca muito distante.
            Não são férias. Estamos numa sociedade convalescente. Pandemicamente convalescente.
           É preciso repetir e repetir que estamos sob intervenção moderada de forças antidemocráticas sustentada por mentiras, obscurantismo e hipocrisia disfarçada de conservadorismo. Não é sobre o Covid-19. Pelo menos não apenas sobre ele.
        É preciso refletir, comparar, questionar. Se os pais assistissem uma semana de aula na sala com seus filhos e filhas, perceberiam do que se trata. Já sabem como é com os hospitais. Precisam ver como é o dia a dia na escola. Sob que condições as pessoas trabalham. Mas eis que 10 minutos aguardando uma declaração ou 20 minutos decorridos de uma reunião e muitos já estão se sentindo aptos a condenar o trabalho dos profissionais da educação como ruim. E os que entendem, por que não se tornam cada vez mais atuantes em favor de uma transformação positiva?
        Espero que todos e todas fiquem bem. Sãos e salvos. E que esse período sirva para a preservação da saúde, da empatia e da humanização de nossa sociedade.
Que os patrões respeitem seus empregados e não os submetam às condições insalubres do vírus e de sua ganância desmedida por lucro e poder. Leio que lenços de papel e álcool gel tiveram seus preços reajustados em até 300% em alguns casos. Notem que até a doença evolui, no entanto a consciência de alguns... dizem que são as leis do mercado. Não é o Covid. São os covardes.
Cuidem-se. Estamos em quarentena e a vida começa ou cessa. Ela nunca tira férias. Um abraço (de longe) pra todos e todas.

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