O vômito do mercado
Quem sou eu

- Erivelto Reis - Poemas e Crônicas
- Poeta - escritor - cronista - produtor cultural. Professor de Português e Literaturas. Especialista em Estudos Literários pela FEUC. Especialista em Literaturas Portuguesa e Africanas pela Faculdade de Letras da UFRJ. Mestre e Doutor em Literatura Portuguesa pela UFRJ. Nascido em Goiás, na cidade de Rio Verde. Casado. Pai de três filhos.
quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Crônica: "O vômito do mercado", de Erivelto Reis
sábado, 23 de novembro de 2024
Poema: "O ego do demagogo", de Erivelto Reis
O ego do demagogo
Poema: "Eunice", de Erivelto Reis
Eunice
Poema: "Boletim de ocorrência", de Erivelto Reis
Boletim de ocorrência
Poema: "G20", de Erivelto Reis
G20
terça-feira, 22 de outubro de 2024
Poema: "Gene", de Erivelto Reis
Gene
quarta-feira, 9 de outubro de 2024
Poema: "XV/X", de Erivelto Reis
XV/X
Erivelto ReisCaminham ao nosso lado,
mas pisam em nossos pés.
Andam a nossa volta,
mas não enxergam as depressões
pelas quais passamos.
Não gostam do que sabemos,
mas fingem saber mais e melhor que nós.
Dizem que não há importância
em nossas palavras,
mas temos que lutar ainda pelas oportunidades
daqueles e daquelas que esperam ouvi-las.
Falam em direitos e empatia
e entendem como gosma, uma lesma
os deveres que desprezam.
Caminham ao nosso lado,
mas ignoram o horizonte que apontamos.
Dependem de nossa insistência
Mas diariamente nos forçam a desistir.
Não vão todos os dias,
mas nos dias em que estão,
não estão mesmo
e se comprazem com nosso exílio forçado.
Peregrinam conosco,
e desprezam nossas promessas,
nossa urgência, nossa pressa,
e a vontade que nós temos
de que vençam e sobrevivam.
Percorrem os mesmos corredores,
mas correm pra longe de nós
como se a água benta que aspergimos
destoasse dos seus sonhos, desbotasse suas grifes
e os embebedasse sem alegria e sem ressaca.
E riem e riem a cada vez
que um de nós é feito de bobo, de babaca.
Escolhem o naufrágio à nova terra,
o deserto ao oásis,
a distância ao objetivo,
a violência ao afeto.
Escolhem sem saber, (por querer),
mas escolhem.
Caminham ao nosso lado,
mas poucos nos dão as mãos.
Chantageiam com ameaças
de escândalo, intimidação e menosprezo.
Vêm contrariados para nossa festa,
e nos expulsam de nosso próprio endereço.
Hipnotizados por bets,
haters, influencers.
Operam teclados virtuais,
com olhos de crateras lunares,
(Inescrutáveis até pra NASA)
E olheiras indisfarçaveis,
doentes de existir sob falsas crença e causas
Com fúrias e preguiças abissais.
domingo, 6 de outubro de 2024
Poema: "Date", de Erivelto Reis
Date
domingo, 22 de setembro de 2024
Poema: "Pluft", de Erivelto Reis
Pluft
Poema: "Ponto-de-vista", de Erivelto Reis
Ponto-de-vista
Crônica: "Os donos de tudo", de Erivelto Reis
Sobre a expulsão dos estudantes na UERJ e outros desmandos do governo do Estado
Erivelto Reis
Terceira semana de setembro de 2024
Invadindo (ou adentrando com um "documento") a universidade a poder de polícia pra expulsar estudantes; desvinculando receita de royalty da indústria do petróleo da obrigatoriedade do direcionamento do pagamento prioritário de aposentados e pensionistas;
terça-feira, 10 de setembro de 2024
Poema: "Sermão do afastamento do ser violento", de Erivelto Reis
Sermão do afastamento dos violentos
sexta-feira, 2 de agosto de 2024
Poema: "Todas as noites em 67", de Erivelto Reis
Todas as noites em 67
Poema: "Labor", de Erivelto Reis
Labor
quinta-feira, 25 de julho de 2024
Poema: "Realejo", de Erivelto Reis
Realejo
quarta-feira, 26 de junho de 2024
Crônica: "Mercado, o monstro", Erivelto Reis
Mercado, o monstro
Erivelto Reis
O mercado não se magoou ante a escalada de mortes da COVID, às falas medonhas do ignóbil genocida que presidia o país durante a pandemia, ao golpe econômico-jurídico-legislativo de 2016, às vergonhosas privatizações dos diversos e lucrativos patrimônios públicos brasileiros, ao execrável e excludente novo Ensino médio, às emendas parlamentares de bilhões e ao sequestro constante da capacidade de gerenciamento e implantação das propostas e projetos vitais para o desenvolvimento do país pela extrema direita e partidos hipócrita e demagogicamente alinhados com pautas pretensamente conservadoras, que ocorre descaradamente nas dependências da câmera federal, do senado e nas inúmeras comissões legislativas. O mercado não se abala com a marcha crescente da violência nas grandes capitais, com as pessoas pobres sendo executadas nas comunidades, com o neopreconceitantismo, com o fetiche de enriquecimento das corporações que tramam dia e noite a queda do funcionalismo público, com a exploração vergonhosa da capacidade e dos talentos dos trabalhadores e trabalhadoras, com a espetacularização da estupidez e da ignorância e com a desvalorização da arte e da educação que será oferecida ou acessível à população... O mercado,essa entidade abstrata, esse monstro ávido por censura, privilégios e por esquemas legais/imorais de sonegação e transferência de prejuízo para as contas do erário público, que especula e trama golpes, mini-golpes e formas de subverter a democracia e o potencial de crescimento do país aos seus interesses. O mercado é essa horrenda criatura que promove a desigualdade, estimula as mais diferentes formas de corrupção e aliciamento e se dá por satisfeito e que não se constrange quando consegue produzir a concentração de renda nas mãos dos poucos que o controlam e por arrancar das mãos dos trabalhadores e trabalhadoras os centavos que seja num reajuste salarial, os poucos gramas de arroz e feijão a mais no prato das famílias, o remédio para os doentes e o teto para abrigar seu repouso e sua capacidade de sonhar. O mercado assassina sonhos de soberania. Faz isso explicitamente e todo mundo sabe disso. E poucos e poucas têm e tiveram coragem suficiente para lutar contra isso. O mercado lucra sempre. Mas parece ter um prazer a mais quando seus ganhos produzem o aviltamento e a insegurança da dignidade e das condições dos mais pobres.
Poema: "Soslaio", de Erivelto Reis
Soslaio
Poema: "Epônimos", de Erivelto Reis
Epônimos
sábado, 25 de maio de 2024
Poema: "Tríade", de Erivelto Reis
Tríade
Erivelto Reis
Não nego que seja possível haver quem goste
De algo que perdeu ou de alguém que se foi
Com afinco sem precedentes
De intensidade, de paixão e de entrega
Em nada comparáveis
Ao aparato afetivo empregado
De quando os tivera.
Não nego que diante da ausência do ente amado
A pluralidade de respostas emocionais
Ao reconhecimento do amor que passou, findou,
Desistiu de esperar a reciprocidade idealizada e devida
Seja muito mais dramática e intempestiva
Em sua oferta de conexão, desejo e entrega.
É por haver uma capacidade de amar
Para além do amor, um amor pra depois,
Um pós-amor,
Diferente, em esmaecimento de autoestima, ao desamor
Que acredito que a perseverança para a ruína
De quem não reconheceria o amor
Nem se tropeçasse ou fosse atravessado por ele,
Mantém os ébrios vestidos de sóbrios,
Os alucinados céticos
Os artistas em crise criativa
Ou processos embricados de supercriatividade
E hiperbólica interpretação,
Os deprimidos mergulhados na melancolia do desespero.
Por haver quem só percebe valor na perda,
É que os poetas têm ou não têm emprego
É que os poetas têm e não tem paradeiro,
Amores, leitores e dinheiro.
terça-feira, 7 de maio de 2024
Poema: "Às vezes, as pazes", de Erivelto Reis
Às vezes, as pazes
Erivelto Reis
Deus, quando quer perdoar, não perdoa!
Ele enrola, disfarça, não trapaceia:
Pega um pouco mais de barro,
Faz um empanado com areia,
Tira uma costela do outro lado,
Deixa no presente o seu passado,
Põe tua alma velha num corpo diferente.
Não quer atrasar seu lado,
Mas quer te ver penitente.
Deus, quando quer perdoar,
Perdoa!
Mas implica pra cacete.
Te faz capinar um lote,
Te esconde um monte de macetes,
Te joga na beira do Rio,
Te faz remar contra a maré.
Põe os anjos aos teus pés,
Compreende os teus defeitos,
Mas te vicia em café.
Deus, se quiser, às vezes, perdoa!
Faz um rascunho pra tua vida nova,
Troca a tua pena com a de outra pessoa...
Deus é um sujeito magoado,
Deus é um indivíduo estressado,
Deus é um ser mal-humorado,
Deus não anda de bobeira,
Deus não virou deus à-toa.
Deus pode até querer te perdoar,
Mas, daí a dizer
Que vai tudo ficar de boa...
É conversa pra boi dormir,
Que não engana mais ninguém...
Deus tem os mesmos defeitos
Que qualquer ser humano tem.
sábado, 27 de abril de 2024
Poema: "Receita para entrar no Céu", de Erivelto Reis
Receita para entrar no Céu
Erivelto Reis
Não grite na porta,
Não questione deus, zeus, ateus
Semideuses ou alguém vestido de deus
Não chame por santos
Eles são quadros abstratos
Nas paredes de pó e nuvem
Não espere por milagres
Não diga que tem sede
Porque senão te dão um copo de vinagre
Fique afastado das grades, dos pátios
Dos átrios, no limiar do anonimato
Não tenha pressa
Porque te farão esperar
Por toda a eternidade.
Quem já lá esteja
Não brindará tua chegada
Não te oferecerá uma cadeira,
Um torresminho, uma cerveja
O céu é para os heróis,
Os faraós e os aerossóis
Que herdarão a Terra
Pois fizeram dela usucapião
E sabem que depois que ela sucumbir
O céu não vai fazer qualquer sentido.
No céu de faz de contas
Anjos e querubins
Se levantam enquanto passam
Os arcanos, os decanos e os chapolins
Enchem de ar e derrota os pulmões
E tocam os clarins
Para anunciar que algum daqueles deuses
Acabou de passar por ali.
Não reclame da falta de espaço,
Transparência e ética no recinto
Por qualquer coisa, um semideus se zanga
E o céu é Terra de quem só crê em si.
quarta-feira, 17 de abril de 2024
Poema: "Engulhos", de Erivelto Reis
Engulhos
Erivelto Reis
É gosmento o argumento dos hipócritas
São de pus as certezas do demagogo...
Tudo que eles falam talha,
Tudo o que fazem, jogo.
É metastática a sordidez dos canalhas
E seus ecrãs espelham suas taras.
Andam na rua,
Sempre à procura de defeitos
Que sirvam de álibis distrativos
Aos seus malfeitos...
São de carne morta a língua
E os ardis com que proferem certas frases...
É como úlcera, refluxo gástrico de monólogos
No palco do teatro de sua polidez de farsas.
Banem, discriminam... sequer suam,
Apertam a mão, enquanto rotulam,
Abraçam e mantêm perto pra punir.
Reagem, sorrateiros, emulando emoções
Qual malabares.
Não revelam a expressão real
De seus intentos mais profundos
São de pedra, incontornáveis desvalores,
Vomitam aspergindo seus engulhos.
domingo, 14 de abril de 2024
Poema: "Babilônia", de Erivelto Reis
Babilônia
quinta-feira, 28 de março de 2024
Poema: "Sabujo", poema de Erivelto Reis
Sabujo
Erivelto Reis
Pelego
Que vende como eficiência
A sua pouca sapiência da disciplina
Que deveria ensinar e não ensina
Disfarçada na sua capacidade
De dissimulação e dissonância laboral
Que alardeia como símbolo de sua inteligência emocional.
Pelego
Que romantiza, com pitadas de humor infantil,
(Fingindo revelar um macete, contar um segredo)
A precarização salarial,
As péssimas condições de trabalho e o assédio moral
A que são submetidos os pelegos e os antipelegos
E sua falta de responsabilidade profissional
Em contos autorais em que este se destaca
E se autoproclama entre os maiorais.
Pelego
Que açula contra os bons profissionais
A sua horda de bajuladores mais boçais
E faz as lições pra eles, e lhes dá dicas valiosas
Que pretendem que comprovem quanto é mau
O desavisado desafeto de que espera se livrar
Emprestando trabalhos,
Interferindo e desvirtuando os procedimentos avaliativos
Assinalando as respostas nos livros e pdfs que fazem com
Que paspalhos antiéticos se passem por ultrajados cdfs.
Pelego
De olhar terno e fala suave
Que orientou demissões, que articulou gravações
Ilegais de seus colegas
E alardeia vitórias sem batalhas
Ombreado à súcia de covardes e canalhas
Alimenta-se das migalhas que lhe atiram os patrões
E dos aplausos de incautos e mandriões.
Pelego
No silêncio de sua consciência
No deserto de sua ética
Passa dia e noite, sem intervalo
E com a logomarca de seus patrocinadores,
A mesma novela patética.
Pelego: títere da própria queda.
sexta-feira, 22 de março de 2024
Poema: "Silenciosa anatomia do descarte", de Erivelto Reis
Silenciosa anatomia do descarte
Erivelto Reis
Com essa areia você construirá seu
castelo:
O dia seguinte sem você
Não será o ocaso do mundo.
No seu trabalho (se ainda houver
trabalho), na sua rua
Um perfume de passado
Vai desfilar no ar.
Os poucos que amarão você
Irão se aproximar do precipício
E em silêncio ouvirão
Sua voz num eco
Proveniente do luto
Da impotência.
Diante do desastre
Há quem desista,
Ou produza alguma obra de arte...
Mas o que o prolifera mesmo,
Em quase toda parte,
Silenciosa anatomia do descarte,
São caixas cheias do que eram bens
Inestimáveis apenas pra você,
Remorsos inescrutáveis,
Que virão à tona como um refluxo
ácido
Saindo das profundezas do estômago
De sua alma.
Os traumas que você houver causado
Se tornarão o vômito das memórias
recuperadas
Ou cinematograficamente inventadas,
Numa coreografia de adeus
apressado.
Um porteiro, a balconista da
padaria
Vão pensar: “ué, faz dias que não
o vejo”
Até concluir dizendo com enlevo:
“Coitado... tão novo (mesmo sem
ser verdade),
ao menos descansou,
Que deus (se ainda houver deus) o
tenha em bom lugar”.
No mais, o de sempre: fluidos
corporais, gente infeliz,
Algodão no nariz, vísceras,
saudades
E outras bactérias que devoram o
corpo.
Com essa areia você construirá seu
castelo!
Eu explicaria isso ao meu neto,
(Única criatura da qual eu não
seria arquiteto)
Única travessia da qual eu não
veria o final do trajeto,
Deixaria escrito num poema,
Escondido na moldura de um quadro
Ou num cofre de mim mesmo:
Como um código de um diálogo para
sempre indecifrado.
domingo, 17 de março de 2024
Poema: "Nulo", de Erivelto Reis
Nulo
Erivelto Reis
Escrever um poema, trocar o tempo pouco
Que suponho que me reste,
A juventude lasciva
das paixões e das palavras,
O fogo das ideias e dos ideais de revolução
Por um poema, um verso bom apenas...
Que sobreviva e que force a arqueologia,
A procura de meus restos e rascunhos.
Para que no futuro, no apagamento eterno
Da materialidade de qualquer
Circunstância ou referência
Que me acorde do fundo de meu sono sepulcral,
Eu não precise lidar
Com o mundo que eu pensava que era meu,
Com um presente que eu tive e não me deram,
Com uma memória, Cérbero, às portas do inferno
De qualquer sentido literal ou metafórico
De algo que eu não criei
E que ao me lerem, me atribuam.
Escrever para não ser
Um poeta descoberto como um fóssil
Ou ter as palavras derretidas pelo magma:
Síntese, cinzas, sintagma.